No set de filmagem, uma diretora de cinema ensina ao elenco: "o ator deve andar sempre perto do personagem". A dica está no longa italiano Mia Madre e é proferida mais de uma vez pela protagonista Margherita (Margherita Buy). Parece um pouco difícil de ser compreendida, mas a frase passa a fazer sentido quando se descobre que a história retratada nas telas carrega fortes detalhes biográficos sobre a vida do diretor Nanni Moretti - que também atua no filme, no papel do irmão de Margherita. Moretti parece querer destacar que a vida anda ao lado da arte. Esses limites sobre quem somos na essência e sobre o que representamos ser (sejam os personagens do cinema ou da realidade) estão presentes na produção italiana que estreia nesta quinta-feira, na Sala de Cinema Ulysses Geremia.
Confira as últimas notícias de Cultura e Tendências
Mia Madre acompanha uma fase conturbada na vida da diretora (do filme dentro do filme) Margherita. Enquanto roda um longa em Roma, ela precisa lidar com todos os planos que não saem como o esperado, com o ego de seu ator protagonista e, mais grave ainda, com o estado terminal de sua mãe. Moretti, o diretor de verdade, passou por situação semelhante enquanto filmava um de seus filmes mais recentes, Habemus Papam (2011). Ele revisita o momento de perto, aproximando realidade e ficção. O resultado é um drama com pitadas cômicas que foi laureado com o prêmio do júri ecumênico no Festival de Cannes 2015.
O americano John Turturro (Faça a Coisa Certa) é o respiro burlesco do longa e arranca risadas na pele de um ator cheio de vaidade que mente, sempre que possível, sobre ter trabalhado com Stanley Kubrick. Com dificuldade para decorar as poucas falas das cenas para as quais foi contratado, ele tira Margherita do sério e contribui para a faceta mais carrasca da diretora aparecer. Por outro lado, o contato íntimo com a mãe, no hospital, revela uma mulher mais sensível, fragilizada e cheia de memórias doloridas. Enfrentando a dor de uma perda que se anuncia, Margherita descobre detalhes importantes sobre a mãe ao passo que também volta os olhos para si mesma, questionando a própria maneira de lidar com os outros. Ao mesmo tempo que reaprende a ser filha, também precisa ser mãe de uma pré-adolescente.
Moretti vive o sensato e calmo irmão da diretora. Em entrevista, ele chegou a dizer que seu personagem representa alguém que a própria Margherita gostaria de ser. Ou seria, na vida real, quem ele mesmo gostaria de ter sido na época em que sua mãe ficou doente?
As tiradas cômicas do longa ajudam a suavizar a história que poderia ser muito dramática, entretanto, parecem por vezes um pouco deslocadas. É a doçura da mãe de Margherita, uma professora aposentada apaixonada por latim, que proporciona os momentos mais especiais do longa e justifica o título do longa. A cena final de Mia Madre, por exemplo, carrega a mão na simbologia de uma forma completamente emocionante - o que justifica os oito minutos ininterruptos de aplausos que o filme recebeu em Cannes.
:: O longa fica em cartaz até o dia 7 de fevereiro, com sessões quintas e sextas, às 19h30min, e sábados e domingos, às 20h. A Sala de Cinema Ulysses Geremia fica na Rua Luiz Antunes, 312. Ingressos custam R$ 10 e R$ 5 (estudantes e idosos).
Cinema
Drama cômico italiano "Mia Madre" estreia em Caxias nesta quinta
Filme é atração na Sala de Cinema Ulysses Geremia
Siliane Vieira
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project