O dinamarquês Segunda Chance é daqueles filmes em que se torna difícil a tentativa de não deixar escapar nenhum spoiler sobre a trama ao longo da análise. Há tantas reviravoltas na história que o primeiro take na tela - uma escadaria vista de cima, bem aos moldes do hitchcockiano Um Corpo que Cai - parece fazer total sentido justamente por, esteticamente, cruzar caminhos, além de remeter diretamente ao suspense. A premiada diretora Susanne Bier oferece uma experiência intensa ao espectador, conduzindo-o a situações limite em diferentes perspectivas. O filme estreia na sala Ulysses Geremia nesta quinta.
O roteiro acompanha o policial Andreas (Nikolaj Coster-Waldau, você já o viu em Game of Thrones), que vive tranquilo com a esposa e um filho bebê, mas acaba desestabilizado quando encontra outra criança em situação de risco, vivendo com um casal de viciados em heroína (vivido pelo talentoso Nikolaj Lie Kaas e pela estreante May Andersen). Diante da inércia do Conselho Tutelar, Andreas resolve tirar a criança do "lar" por conta própria _ essa cena é muito impactante. De cara, o espectador fica aliviado por ver o pobre menino ser salvo, mas o contexto em que a atitude do policial é tomada envolve muitas outras questões. E aí está a graça do impressionante roteiro assinado por Anders Thomas Jensen.
O paralelo que a diretora propõe aqui pode ser comparado com o que ela mostra no oscarizado Em Um Mundo Melhor (melhor estrangeiro de 2011). Enquanto na produção premiada acompanhamos o abismo entre a violência sofrida na África e a protagonizada por jovens numa escola dinamarquesa; Segunda Chance nos coloca de frente com as demências vividas dentro de uma bela casa à beira de um lago (onde mora a família de Andreas) e de um cubículo imundo habitado por junkies. Posicionar-se entre elas é um desafio.
Coster-Waldau está muito bem no denso papel principal - seu personagem, aliás, parece um dos únicos a carregar certa sensatez na trama. A quase ausência de trilha possibilita belas sequências de intensidade dramática do ator envoltas em silêncio. A fotografia do filme também merece destaque - preste atenção na simbólica cena noturna do carrinho de bebê parado em frente aos faróis de um caminhão no meio de uma estrada deserta. O frio do inverno dinamarquês ajuda a dar o tom certo à obscuridade da história.
O rio que marca o abismo entre as famílias do policial e do casal de viciados é mais um elemento estético importante. A água, que geralmente tem ares purificadores, aqui parece intimidar os pequenos atos humanos com sua exuberante vastidão.
Segunda Chance fica em cartaz até o dia 19 de julho, com sessões às quintas e sextas, às 19h30min, e aos sábados e domingos, às 20h, na Sala de Cinema Ulysses Geremia (Luiz Antunes. 312). Ingressos custam R$ 4 (estudantes e idosos) e R$ 8. A classificação é de 16 anos.
Cinema
Produção dinamarquesa "Segunda Chance" estreia em Caxias nesta quinta
Filme é atração na Sala de Cinema Ulysses Geremia
Siliane Vieira
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