Começa como um romance qualquer, acompanhando as traquinagens de um casal apaixonado (você também já quis agarrar a mão de alguém e fugir de um restaurante sem pagar), mas logo se percebe uma ruptura. Contrariando o começo bonitinho, é na dor que o diretor Ned Benson vai construir a trama de Dois Lados do Amor, estreia desta quinta na Sala de Cinema Ulysses Geremia. O abismo que se abre quando nos afastamos dos momentos em que fomos felizes é o lugar onde se passa a história do casal Connor Ludlow (James McAvoy) e Eleanor Rigby (Jessica Chastain). Bom avisar também que o nome da personagem feminina é sim inspirado na homônima canção dos Beatles, que versa sobre a boa e velha solidão.
O longa é uma mistura de outros dois trabalhos, ambos integrantes do projeto The Disappearance of Eleanor Rigby (na tradução, O Desaparecimento de Eleanor Rigby), a estreia em grande estilo do nova-iorquino Benson. Os outros dois filmes são Her, com o ponto de vista de Eleanor, e Him, com o ponto de vista de Connor sobre o relacionamento. O Brasil só recebeu a terceira versão, também chamada de Them, com fragmentos de cada um dos lados desse amor. A história não fica prejudicada nessa última edição, mas percebe-se que certos momentos e até personagens poderiam ser melhor explorados.
O martírio do casal protagonista baseia-se num acontecimento trágico, do qual o espectador vai recolhendo informações em pequenas doses. Sabe-se, porém, que as distintas formas de ambos em lidar com o sofrimento acaba os distanciando. "Eu não estava preparada para sentir isso", desabafa a bela Eleanor, justificando da forma mais sincera possível sua tentativa de fuga do marido (o título do projeto já denunciava que isso aconteceria, certo?). A reclusão que se apresenta como um caminho (ainda que árduo) para ela, torna-se praticamente insuportável para ele.
As performances do elenco seguram o filme. James McAvoy (da franquia X-Men) é a cara do cansaço da relação do casal. As olheiras profundas e o desgaste físico (ele leva uma surra e é atropelado em momentos diferentes da trama) demonstram as tentativas do personagem em reconectar-se com o amor. Jessica Chastain é um capítulo à parte na tela, fazendo qualquer garota querer ser como ela: ruiva, linda e bem vestida, desfilando seus dramas pelas ruas de Nova York. Nunca pareceu tão cool chorar numa estação de metrô ou num táxi amarelo qualquer. O talento da moça (reconhecido em trabalhos como A Hora Mais Escura) embrulha a história de forma atraente e ofusca até possíveis falhas de roteiro. Preste atenção na delicadeza de interpretação na cena em que Eleanor volta ao apartamento onde vivia com o marido.
Vale ressaltar ainda a importância das figuras maternas e paternas - não necessariamente de pais e mães - que surgem ao longo da história, numa relação bem interessante com o próprio lugar do casal protagonista no roteiro. Eleanor e Connor são aprendizes, ou seja, a maior parte das frases de efeito do filme nem é verbalizada por eles, mas para eles. Vale citar um exemplo, vindo do pai de Eleanor (William M. Hurt): "tragédia é um país estrangeiro onde não sabemos nos comunicar com os nativos".
Dois Lados do Amor fica em cartaz até o dia 21 de junho, com sessões às quintas e sextas, às 19h30min, e sábados e domingos, às 20h, na sala Ulysses Geremia (Luiz Antunes, 312). O filme tem 123min e a classificação é 14 anos.
Estreia
"Dois Lados do Amor" entra em cartaz em Caxias nesta quinta
Longa tem James McAvoy e Jessica Chastain como protagonistas
Siliane Vieira
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