Desenhos coloridos em traços infantis e mensagens escritas à mão enfeitam as portas dos armários cheios de livros de Lourdes Curra. Na sala de casa, a escritora se agarra a um buquê de flores artificiais que ganhou numa escola de Caxias.
- Os alunos leram o meu livro (Sapolândia) e encenaram o casamento dos sapos. Este era o buquê da noiva, eu peguei para mim brincando que ia casar, só faltava arrumar o noivo - conta sorrindo a simpática senhora de 81 anos que, na verdade não casou nem teve filhos.
A animação com que fala do contato com as crianças deixa clara a vocação. Professora de formação (fez Magistério, Pedagogia e Administração Escolar), Lourdes dedicou a maior parte de sua produção textual aos pequenos. Dos 14 livros publicados, pelo menos oito se encaixam no gênero infantil e infanto-juvenil. O primeiro deles foi escrito ainda aos 17 anos, publicado somente mais tarde, e o mais recente terá sessão de autógrafos durante a Feira do Livro de Caxias, em que ela também é escritora homenageada.
- Alguém me disse que escrever para crianças era muito importante. Pensei: "se eu decidir escrever para eles, quero escrever coisas que considero válidas". No meu primeiro livro publicado (Esperança), falo de sonhos, tem uma personagem que quer ajudar as pessoas - justifica a escritora, natural de Flores da Cunha.
Mas o universo da escrita de Lourdes foi se ampliando. Ela também contemplou nos livros assuntos pelos quais se interessa, como o heiki, a Ilha da Páscoa (que já visitou sete vezes), a ciência quântica e a cosmoterapia (uma "técnica de canalização de energia cósmica").
- Tenho quatro livros canalizados. É como se alguém tivesse te falando no ouvido. Comecei numa manhã, acordei às 5h, peguei uma caneta e veio - relata ela.
A residência de Lourdes - uma construção tradicional no Centro de Caxias - tem a vitalidade das flores e dos livros espalhados pelos espaços. Atualmente, está lendo Juliano Pavollini, de Cristovão Tezza, em preparação para o bate-papo mais esperado do primeiro fim de semana da Feira. Confessa que não consegue ler tudo que compra, e alegra-se com as lembranças que alguns exemplares da coleção lhe trazem.
- Este aqui foi autografado na praça, é uma obra de 1976. Veja só desde quando eu frequento a praça - brinca ela, com uma cópia do livro 14 Bis em mãos, o original ela deu a um dos autores, que acabou ficando sem.
Animada com a possibilidade de circular entre os visitantes da feira, é bem provável que Lourdes também leve à praça as dicas que gosta de dar às crianças, seu público mais fiel.
- Sugiro que tenham diário, que escrevam todo dia algum fato interessante que ocorreu. Sempre digo: "vocês são escritores em potencial, procurem desenhar, construam os brinquedos de vocês, desenvolvam habilidades".