Cenário para diversos projetos sociais e artístico-culturais, como o Casas da Quebrada e o Muros da Quebrada, o bairro Euzébio Beltrão de Queiroz completa daqui a exatamente um mês os 60 anos de sua denominação oficial pelo poder público.
Foi em 3 de julho de 1963 que o então prefeito Armando Biazus sancionou a Lei Nº 1.234, a partir de um projeto de autoria do vereador João de Oliveira Viegas, aprovado por unanimidade na Câmara. Consta em seu Artigo 1º:
“Passa a denominar-se Bairro Beltrão de Queiroz a zona situada nas adjacências do Cemitério Público Municipal, abrangendo até o muro divisório do Campo de Esportes do Grêmio Esportivo Flamengo (atual Estádio Centenário), incluindo-se as quadros de número 89, 90, 91, 297, 299 e 625, enquadradas entre as ruas Bento Gonçalves, La Salle e José Gollo”.
Registros da imprensa da época também destacaram a figura do patrono do bairro. Nota publicada pelo jornal Pioneiro em 6 de julho de 1963 detalhou:
“A Câmara de Vereadores aprovou lei e o prefeito municipal sancionou, dando a denominação de Bairro Euzébio Beltrão de Queiroz a até agora chamada Zona do Cemitério. Desta maneira, a cidade presta mais uma justa homenagem à memória de Euzébio Beltrão de Queiroz, que dedicou o melhor de sua vida às obras assistenciais e aos atos de caridade”.
MARIANINHA DE QUEIROZ
No mesmo ano em que recebeu a denominação oficial (1963), a comunidade também celebrou o primeiro aniversário da Associação dos Amigos do Bairro Euzébio Beltrão de Queiroz, surgida em 1962. Conforme matéria publicada pelo Pioneiro em 17 de agosto de 1963, “um dos primeiros trabalhos da entidade, em colaboração com seus associados, foi a construção, ou melhor, a reconstrução de um reservatório de água de 14 mil litros, que já está abastecendo os moradores do bairro”.
À época, a diretoria estava empenhada também na construção de sua sede própria, onde poderia abrigar os associados e proporcionar um ambulatório médico e assistencial de urgência. O lançamento simbólico da pedra fundamental, em 11 de agosto de 1963, contou com a presença da professora Marianinha de Queiroz, viúva de Euzébio, acompanhada dos filhos e demais familiares.
Participaram também Miguel e Aracy Sehbe, Bruno Rossi, João Prataviera, o jornalista Heráclito Limeira (vulgo “Velho Laranjeira”), Vitório Cesa (tesoureiro da Sociedade Caxiense de Auxílio aos Necessitados - Scan), José Casagrande e José Gonçalves (presidente do bairro Marechal Floriano).
A solenidade
Outros momentos do primeiro aniversário da associação e da solenidade de lançamento simbólico da pedra fundamental foram destacados na edição do Pioneiro de 17 de agosto de 1963. Conforme o texto, as solenidades foram presididas pelo sr. Ouri Carvalho Santos, presidente da associação; secundado pela comissão de recepção, constituída pelos senhores Ivoni Machado, Antonio Frigeri e Florêncio Machado, que expôs as necessidades do bairro.
Também participaram o senhor Antonio Rath de Queiroz (presidente de honra da associação), Mário Rocha Neto (representando o jornal Pioneiro) e o padre Ivo Mauri. Já a bênção da pedra fundamental foi procedida pelo padre Darci Fontanive.
A saber: à época, a associação ainda aguardava pela doação de um terreno para a sede, que seria providenciada pela prefeitura e pelo Legislativo.
O patrono
Filho de Thomaz e Irenea Beltrão de Queiroz, Euzébio nasceu em 1902, na cidade de Apodi, no Rio Grande do Norte. Fugindo da seca, a família chegou a Porto Alegre em 1912, transferindo-se para Caxias em 1924. O casamento com Anna Maria Rath de Queiroz (a dona Marianinha) ocorreu em 1925, nascendo dessa união os filhos Maria, Antonio, Regyna e Marília.
Euzébio Beltrão de Queiroz foi um dos fundadores da Sociedade Caxiense de Auxílio aos Necessitados (Scan) e presidente da entidade por várias gestões, destacando-se por ações solidárias como o Natal dos Pobres. Com a extinção do antigo Tiro de Guerra Nº 248, do qual foi presidente, transferiu a sede e o terreno aos Padres Josefinos, para a fundação do Abrigo de Menores São José. Também cooperou no Orfanato Santa Terezinha, no Hospital Pompéia e na Cruz Vermelha.
Euzébio Beltrão de Queiroz faleceu em 20 de junho de 1949, devido a problemas cardíacos.
O bairro em 1984
A imagem aérea que abre a matéria integrou a exposição fotográfica “Euzébio Beltrão de Queiróz – Favela do Cemitério”, realizada em 1984 na administração do prefeito Victório Trez. A mostra contou originalmente com 29 quadros, dotados de imagens e textos sobre o bairro: histórico, situação e localização, topografia, pavimentação e sistema viário, rede de água e esgoto, coleta de lixo, e equipamento público e social.
Em relação aos textos, destacamos: “No início da década de 50, Getúlio Vargas visita a área onde havia 50 habitações, sendo a única favela dessa dimensão no município. Em 1963, foi feito um cadastramento e foram identificadas 201 casas, com 986 habitantes, numa área de 3,5 ha. A divisa do cemitério era de cerca viva. A partir desta data foi construído o muro de alvenaria e a área diminuiu para 2,5 ha.”
Viabilizada pelos arquitetos Celito Girardi, João Batista Mosele, Juarez Marchioro, Maria Conceição Baldisserotto, Paula Folchini, sob a assessoria do arquiteto Antonio Fillipini, as imagens fotográficas da exposição são de autoria de Antônio Carlos Galvão e Maria Conceição Baldisserotto. A exposição completa está disponível em arquivomunicipal.caxias.rs.gov.br.
PADRE GIORDANI
Impossível falar do bairro Euzébio Beltrão de Queiroz sem lembrar da atuação do padre Eugênio Giordani, pároco de São Pelegrino e mentor de diversas ações filantrópicas, educativas e sociais na comunidade. Mas essa é uma história que abordaremos em outras colunas.