Único filho dos imigrantes italianos Oscar e Rosa Masserini Calegari a nascer no Brasil, em 1886, o fotógrafo Júlio Calegari teve atuação marcante na Caxias da prosperidade econômica e da remodelação urbana decorrentes da chegada do trem, em 1910. Se o irmão Virgilio Calegari captou a Porto Alegre do início do século, coube a Júlio eternizar a sociedade caxiense a partir de 1917 – após um breve período atuando em Bento Gonçalves.
O atelier da Av. Júlio de Castilhos, 1.604, entre as ruas Dr. Montaury e Visconde de Pelotas, funcionou de 1925 até meados dos anos 1950 – e, tal qual o vizinho Studio Geremia, era um espaço de “retratos artísticos e modernos”.
Todo esse cenário foi detalhado pela servidora municipal Sônia Storchi Fries na edição nº 5 do “Boletim Cenas”, editado pelo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami em janeiro de 2000.
“Na sala de espera, as paredes eram cobertas por fotografias de personalidades, de pessoas cuja beleza despertava-lhe o desejo pela obra-prima. Compunham o ambiente um sofá e algumas cadeiras ordenadas no centro da sala. Nas laterais, colunas com vasos de flores e folhagens descansavam sobre guardanapos rendados. O destaque era dado justamente aos retratos executados pelo fotógrafo. Enquanto durasse a espera, eles podiam ser admirados e, talvez, influenciar na escolha da pose desejada. A sala de espera era o ‘intermezzo’ entre o ser a a expectativa do vir a ser”.
Paisagens bucólicas
Conforme Sonia, a transformação de simples mortais em imortais acontecia no atelier propriamente dito: a sala de poses (foto que abre a matéria).
“Situado no primeiro andar, deixava transparecer um certo clima de mistério, talvez pela luz que se refletia de uma clarabóia existente no teto. Numa das paredes estavam dispostos vários cenários que reproduziam ambientes de luxo, jardins e paisagens bucólicas. Nas laterais, duas ou três colunas, algumas cadeiras de estilo, cortinas, vasos com flores e objetos de adorno estavam reservados para a composição das cenas fotográficas”.
A logomarca
Outro destaque era a logomarca do atelier (foto acima). Uma pose cuidadosamente encenada mostra o perfil de uma jovem com os braços e o olhar voltados para o horizonte. Conforme Sonia, “nenhum outro elemento é utilizado, a sutileza da luz e sombra afasta qualquer limite. Nem o céu, nem a terra prendem a moça, que se lança em direção ao futuro. Uma estreita relação entre modernidade e progresso”.
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