Sandra Regina Trintingalia tinha apenas quatro anos quando iniciou no curso de ballet da Escola Municipal de Belas Artes (Emba), em 1949. Foi uma das primeiras alunas do lendário espaço, criado na Caxias do pós-guerra para impulsionar uma série de práticas artísticas, que incluía ainda música e pintura.
Aluna, bailarina, professora particular, professora do São Carlos, administradora de escola, Sandra tem sua história mesclada não apenas à Emba como também à evolução da dança em Caxias – testemunhando e impulsionando o surgimento de centenas de novos espaços e profissionais da área.
Parte dessa trajetória, destacada no livro Frestas da Memória - A Dança Cênica em Caxias do Sul, de Sigrid Nora e Maria Ramos Flores, também será recordada hoje, durante a última live do projeto Figuras da Dança Cênica em Caxias do Sul. A conversa com Sandra tem transmissão pelo Instagram do jornalista e crítico de dança Carlinhos Santos, às 10h30min.
O bate-papo promete uma viagem não apenas pelo universo da dança, mas pela Caxias das últimas seis décadas, quando espaços como o Cine Ópera e o Cine Central eram recintos multifuncionais. Conforme descrito no livro lançado em 2013, “além da exibição dos filmes, ali aconteciam concertos, récitas de ballet, peças de teatro, apresentação de coros e produções artísticas de várias naturezas”.
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O endereço
Lembranças da Emba e do clássico endereço da Rua Dr. Montaury (atual Casa da Cultura e Biblioteca Pública Municipal) também não devem faltar na live. O perfil de Sandra no livro de Sigrid e Maria Ramos Flores dá mais detalhes daquele espaço:
“Embora não fosse muito grande, o local contava com um pequeno vestiário e uma sala com espelhos, barras e até um piano, que permitia que as aulas e os ensaios fossem acompanhados musicalmente. Lembra Sandra que atuaram como músicos nessa tarefa Adelaide Ribero Mendes, Lorita Sanvitto, Nestor Campagnollo e até mesmo o maestro Max Hendrischky, regente da Orquestra Sinfônica da Sociedade de Cultura Artística de Caxias do Sul, que tocava ao vivo para as récitas de ballet de fim de ano, principalmente as que ocorriam no Cine Central e no Cine Ópera”.
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O início
Um depoimento de Sandra Trintinaglia no livro Frestas da Memória, lançado em 2013, explica a paixão pela dança desde sempre:
“Certa vez, em 1947, minha mãe, dona Marina, se surpreendeu ao ver-me apoiada nas paredes da sala, munida de um calçado do tipo “alpargatas”, comum na época, uma espécie de sapato de lona, de contorno firme, com solado de corda trançada, que se assemelha a uma sapatilha, a deslizar alegremente nas pontas dos pés, e disse: “Acho que esta menina tem jeitinho para a dança. Se algum dia em Caxias houver aulas de ballet, vou colocar Sandrinha”.
Dona Marina foi profética…
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O projeto
Concebido pelo jornalista e crítico de dança Carlinhos Santos e contemplado pelo edital do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) Digital RS, o projeto Figuras da Dança Cênica em Caxias do Sul traz entrevistas com coreógrafos, bailarinos e pesquisadores da área, evidenciando seu rico percurso na cidade.
Fechando o roteiro iniciado em 15 de setembro, a live de hoje traz, além da bailarina e coreógrafa Sandra Trintinaglia Susin, uma herdeira direta de seu talento – a filha Lisa Susin, da Endança Jazz & Cia.
A saber: o projeto destacou o surgimento de outros espaços de dança, além da criação do lendário Grupo Raízes e da Cia Municipal de Dança de Caxias do Sul – temas abordados nas lives anteriores, quando participaram os coreógrafos e pesquisadores Gislaine Sacchet, Matheus Brusa e Sigrid Nora. Todas as entrevistas, aliás, ficam gravadas no IGTV do perfil @carlinhos.santos.7 e podem ser conferidas por quem não assistiu “ao vivo”.
A série de lives que se encerra hoje é uma realização da Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul, em parceria com a Feevale, por meio da Feevale Tech Park. O edital do FAC Digital RS também beneficiou outro projeto destacado neste espaço na última semana: o Podcast Memórias de Galópolis, conduzido pela historiadora Geovana Erlo.
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