Familiares e amigos prestam, neste final de semana, as últimas homenagens ao senhor José Orlandi Vargas, falecido no último dia 15, aos 81 anos. A missa de sétimo dia ocorre neste sábado, às 17h, na Igreja Nossa Senhora de Lourdes - com presença de, no máximo, 70 pessoas e transmissão pelo Facebook da paróquia.
Morador do bairro Lourdes desde 1965, seu José nasceu em 2 de abril de 1939, em Garibaldi, e chegou a Caxias com a família aos quatro anos, em meados de 1943. Caçula de uma prole de 14 descendentes, passou a morar com a mãe, dona Carolina, na casa dos irmãos mais velhos - alternando a permanência com cada um de tempos em tempos, segundo os familiares.
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Naquele cenário de dificuldades, o serviço militar obrigatório foi visto por seu José como a chance de seguir uma carreira. A prova para o quartel, no entanto, acabou ficando em segundo plano - com a morte repentina de um sobrinho, o rapaz optou por ficar junto à família.
Posteriormente, passou a atuar na lendária fábrica de jóias Eberle Kochemborger S/A, onde permaneceu de maio de 1953 a dezembro de 1963, época em que cursava Contabilidade no Colégio Nossa Senhora do Carmo.
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É desse período na Eberle Kochenborger o raro documento abaixo, guardado pela família: a carteirinha de “entrada permanente” na Festa da Uva de 1961. Na sequência, o atestado de seu desligamento da empresa, em 1963, quando saiu por livre e espontânea vontade, tendo sempre cumprido com todas as suas obrigações.
Casamento em 1965
Aos 26 anos, em 25 de setembro de 1965, seu José casou-se com a jovem Maria Teresa Canali, nascendo dessa união os filhos Fernanda, Ednilson e Tiago. Os primeiros anos de casamento, porém, ficaram marcados por um acidente de trânsito quase fatal.
Foi em 24 de janeiro de 1969, quando ele viajava para o município de Dois Irmãos, na companhia dos amigos Adolar, Giovani e “Nene” - o carro capotou, e seu José feriu-se gravemente.
No hospital, em Porto Alegre, os médicos afirmaram que, se sobrevivesse, seu José poderia ficar com sequelas - após 62 dias de internação, ele recuperou-se e voltou para casa, tendo agora de reaprender a falar, escrever e caminhar.
Retorno ao trabalho
Conforme recorda a família, na época seu José mantinha uma lista com o nome de todos os colegas de trabalho e amigos que o auxiliaram na recuperação. Finalmente, após um ano, ele retomou suas atividades na antiga Cooperativa Madeireira Caxiense, onde havia iniciado ainda em 1965.
Nas imagens abaixo, alguns momentos da juventude, do namoro e do noivado, oficializado em 24 de dezembro de 1962, com a presença do padre Sidney Zanettini, então vigário da Paróquia do bairro Sagrado Coração de Jesus do bairro Cruzeiro. No detalhe, o cartão comunicando o “contrato” de casamento, em 25 de dezembro de 1962.
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Nova certidão
Seu José Orlandi Vargas faleceu no mesmo dia do aniversário de sua mãe, 15 de agosto. Nascimento e morte, aliás, norteiam uma história que o acompanhou até a idade adulta.
Conforme informações repassadas pela família, a mãe de seu José, dona Carolina Orlandi, estava grávida de seis meses quando o pai, José Vargas, faleceu – por isso, constou na certidão de nascimento “pai ignorado”, o que lhe trouxe muito sofrimento por anos.
Foi durante o curso de Contabilidade no Colégio Nossa Senhora do Carmo que um professor se sensibilizou com a história e entrou com um processo judicial para alterar a certidão – isso quando seu José já tinha 26 anos.
Com o maior orgulho, José Orlandi, filho de José Vargas, pode, então, mudar todos os documentos. Sua nova certidão de nascimento datou de 22 de junho de 1965, três meses antes do casamento.
Família e religião
A religião teve papel fundamental na formação de seu José. Ele foi coroinha, catequista, ministro da eucaristia e, por mais de 50 anos, contribuiu para as obras e as festas religiosas na comunidade da Igreja Nossa Senhora de Lourdes. Também participou ativamente dos movimentos de Cursilho e Emaús.
Com os irmãos, aprendeu a valorizar a família e celebrar a vida, mantendo o hábito de se reunir e festejar. Os filhos Fernanda, Ednilson e Tiago lembram do pai como dono de uma personalidade marcante, enérgico, responsável e dedicado ao trabalho, mas também muito afetuoso e com senso de humor. Para os netos Júlia, Carolina, Gabriel, Pedro e Davi, foi um avô muito presente, companheiro e amoroso.
Toda essa relação de afeto e cuidado foi fortificada ainda mais no ano passado. Em agosto de 2019, seu José ficou desaparecido por dois dias, mobilizando buscas da família e da comunidade. Ele foi localizado no dia 21 de agosto, junto à mata atrás do Bloco 46 da UCS.
Nas imagens abaixo, dois momentos em família, com a esposa, filhos e netos.
Vida na Madeireira Caxiense
José Orlandi Vargas começou a trabalhar na Cooperativa Madeireira Caxiense em março de 1965, como diretor de contabilidade. Costumava dizer que a cooperativa era sua segunda família, lá permanecendo até a empresa fechar as portas, no final da década de 1980.
Os amigos contavam que viam, seguidamente, seu José chorando dentro do carro, estacionado em frente à fábrica. Segundo a esposa Maria Teresa, depois desse período, seu José nunca mais foi o mesmo.
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