Sugestões de leitores sempre são bem-vindas, ainda mais quando algumas lembranças - boas ou ruins - marcaram a trajetória de quem costuma acompanhar as publicações deste espaço. Foi o caso do e-mail enviado pelo leitor Luís José Branchi na última semana. Branchi solicitou informações mais detalhadas sobre um acidente envolvendo um bimotor vindo de São Paulo, em 1974, e que abalou a comunidade do bairro São Ciro. O leitor, na época com 17 anos, escreveu:
"Estavam nesse voo representantes da empresa Terpa Lipater, que iria iniciar na cidade a coleta mecanizada do lixo. Tenho vaga lembrança deste acidente que tivemos na cidade, mas nunca consegui acessar esta notícia novamente. Talvez aí no banco de dados do jornal você consiga alguma informação".
Dito e feito. O acidente, ocorrido na manhã de 22 de fevereiro de 1974, uma sexta-feira de Carnaval, foi noticiado na capa do Pioneiro e do Jornal de Caxias do dia seguinte, 23 de fevereiro. Intitulada “Corpos esmagados entre as ferragens do avião”, a reportagem do Jornal de Caxias fornecia uma série de detalhes. Confira parte do texto original:
"Os alunos do Seminário dos Padres Paulinos, em São Ciro, precisamente às dez horas e oito minutos da sexta-feira véspera de Carnaval, foram surpreendidos com um estrondo próximo à sala em que estudavam. Era um avião Cessna-310, bimotor, do Táxi Aéreo São Paulo, seis lugares, prefixo PT-JCB, que, depois de bater e decepar a copa de um pinheiro, espatifou-se contra o solo, a uns 50 metros de distância. Entre as ferragens do aparelho, ficaram os corpos esmagados dos passageiros Raymundo Piccirili, sua esposa Helena Piccirili, sua filha Sueli, de nove anos, do piloto João Perez de Ortega e do co-piloto, cuja identidade ainda não havia sido apurada quando fechamos esta edição, antecipada para o entardecer de sexta-feira. Pereceu também o menino Alberto, com seis anos, filho do casal Piccirili, o qual foi cuspido fora do aparelho, juntamente corn sua poltrona, no momento do choque."
Nota do colunista: o co-piloto não identificado na matéria da época era Antonio Natal Cespedes. A informação foi repassada pelo leitor Wagner Cespedes a partir da publicação desta reportagem. Wagner é filho de Antonio e piloto privado formado no Aeroclube de Sorocaba (SP).
Conforme a reportagem, havia intensa neblina, o aparelho furara o teto baixo e "ciscava" a baixa altura, procurando orientar-se visualmente. “Há quem suponha, também, que o piloto tentava uma aterrissagem forçada no campo de futebol existente junto ao seminário. O aparelho voava a uma velocidade de 215 a 250 kms por hora, o que bem demonstra a violência do choque", completava o texto.
Fim de semana em Gramado
Várias suposições e hipóteses para o acidente pipocaram pela cidade naqueles dias, conforme detalhado pela reportagem do Jornal de Caxias:
"O senhor Raymundo Piccirili era diretor e vice-presidente da Terpa-Lipater, empresa que recentemente iniciou o serviço de coleta do lixo nesta cidade. Vinha avistar-se com o prefeito Mário Ramos e iria, depois, passar o fim de semana em Gramado, com sua família, retornando a Caxias do Sul para participar do Carnaval. 0 piloto João Perez de Ortega tinha mais de mil horas de voo e havia sido piloto do conhecido fazendeiro Tião Maia. O comandante Cruxen, superintendente do Aeroporto desta cidade, em declarações à imprensa, disse acreditar ter havido imprudência, pois um avião do porte e da velocidade do Cessna 310 nao deve voar a menos de 500 metros de altura. Por outro lado, o aparelho, nao havendo teto em Caxias do Sul, poderia dirigir-se para Porto Alegre, cujo Aeroporto dispõe de equipamento para aterragem por instrumentos. Mas nunca se ficará sabendo o que aconteceu realmente, já que não houve sobreviventes".
Milhares de curiosos
Segundo texto do Pioneiro de 23 de fevereiro de 1974, "os destroços do PT-JCB foram jogados a dezenas de metros, e os seis corpos mutilados foram recolhidos pelos bombeiros, Polícia Rodoviária, Brigada Militar e Polícia Civil, que, imediatamente, acorreram ao local. Também milhares de pessoas residentes nas proximidades do local onde deu-se o acidente e residentes em Caxias do Sul rumaram para o local, prejudicando, de certa forma, o trabalho de identificação e recolhimento dos corpos".
Não conseguimos localizar imagens originais do acidente, apenas as reproduções de jornal. Você possui alguma foto ou tem mais lembranças do ocorrido? Entre em contato pelo e-mail do alto da página.