A história chega com dois dias de atraso, visto que o Dia do Bombeiro foi celebrado quinta-feira (2), mas vale recordar dos primórdios do trabalho dos “Homens do Fogo”, como eles eram chamados antigamente. Parte da trajetória do Corpo de Bombeiros de Caxias do Sul foi descrita na antiga página Memória, publicada pelo Pioneiro na década de 1980, a partir das pesquisas do historiador Juventino Dal Bó e da equipe do então Museu e Arquivo Histórico Municipal. Texto da edição de 30 de junho de 1984 destacou:
“O Corpo de Bombeiros em Caxias do Sul só foi instalado em 1932. É curioso também quando se constata que ele não surgiu por exigência da população, mas porque os representantes das companhias de seguro contra fogo desta cidade propuseram ao intendente a sua criação, comprometendo-se em fornecer à Municipalidade dois caminhões e uma verba correspondente a 5% da renda global dos segurados, cabendo ao Município o encargo de manter o corpo e instruí-lo. As companhias de seguro colocaram à disposição 44 mil contos de réis para a aquisição do material necessário”.
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FREDERICO BERGMANN
O texto de 1984 trazia as lembranças de seu Oscar Cardoso de Azevedo, à época um dos mais antigos bombeiros de Caxias do Sul, atuante no órgão por 31 anos, de 1934 a 1965:
“Quando entrei, tinha dois caminhões Chevrolet 29 - um com tanque de água com capacidade para 1.500 litros e outro auxiliar para transportar o material como ferramentas, mangueira, magote e tudo o que faz parte da lida. O quartel do Corpo de Bombeiros, que teve sua primeira sede na oficina e garagem de Primo Picolli, na Rua Pinheiro Machado, havia mudado para a Feijó Júnior, num barracão que pertencia a Matteo Gianella. O primeiro comandante foi o senhor Frederico Bergmann e tinha meia dúzia de funcionários”.
Na foto maior acima, uma demonstração de combate ao fogo pelos bombeiros na Rua Sinimbu em direção a Coronel Flores, onde ficava a antiga sede, por volta de 1958.
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As construções em madeira
Outra abordagem da matéria de 1984 foi a predominância da madeira nas construções, o que contribuía para a frequência das chamadas:
“Repassando jornais, ouvindo pessoas idosas, analisando um ou outro aspecto da nossa história, encontramos na cultura local vários resquícios que indicam ter sido o fogo uma preocupação constante entre os moradores desta cidade, desde o já distante século 19. Os imigrantes que povoaram Caxias do Sul e arredores aproveitaram a matéria-prima mais abundante na região, a madeira, e seu uso quase exclusivo fez de Caxias do Sul, no final do século passado e início deste (20), uma cidade de madeira, não só as casas residenciais, mas também seus prédios mais significativos, como igrejas, casas de comércio, cinemas, escolas, cafés, hoteis, etc. O medo do fogo fez com que surgisse um tipo de construção característico: casas construídas separadamente - casa de dormir e casa de comer - onde ficava o fogoler (fogão primitivo). Apesar desta e outras precauções, os incêndios não deixaram de acontecer. A memória das pessoas mais idosas está povoada de incêndios. E é inevitável que, em depoimentos, as imagens e os relatos de fogo e destruição venham à tona. A destruição da Igreja Matriz, em 1886, e outros grandes sinistros ficaram na memória, como o da Casa Minghelli (hoje Joalharia Kaiser), na Praça Rui Barbosa”.