A “Influenza Espanhola” que se espalhou pela Serra Gaúcha a partir do final de 1918 mobilizou diversos setores de Caxias na minimização da pobreza – que também se alastrava com o crescimento da epidemia. Aliados com as iniciativas da Municipalidade – à época sob o comando do vice-intendente interino Adauto Joaquim da Cruz (abaixo) –, diversos comerciantes e industrialistas enviaram donativos e somas em dinheiro para auxiliar a comunidade mais vulnerável.
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Matéria do semanário “O Brazil” de 30 de novembro de 1918 destacou:
“A Municipalidade acaba de instalar um posto de socorros públicos no salão do Tiro de Guerra nº 248, a fim de serem ali distribuídos víveres aos indigentes e pessoas enfermas que se acham momentaneamente privadas de prover a própria subsistência. Essa providência, tomada em virtude da difícil emergência por que ora está passando a população pobre desta cidade, com a disseminação entre nós da Influenza Espanhola, é uma medida do elevado alcance humanitário e que só pode merecer os aplausos de todos os corações bondosos dessa terra. Felizmente, a caridosa iniciativa do nosso governo municipal está recebendo, como era de prever, o valioso auxílio dos comerciantes e industriais desta cidade, que estão enviando donativos em dinheiro e em gêneros, no intuito de diminuir o pesado encargo que a caridosa tarefa representa para os cofres municipais”.
Conforme o texto, o posto de assistência junto ao antigo Tiro de Guerra (embrião do 9º Batalhão de Caçadores e do 3º GAAAé) atendia na área central das 8h às 12h e das 13h às 17h. Para retirar os alimentos necessários, os interessados necessitavam de uma autorização do médico municipal, doutor Lopes de Azeredo, da sub-Intendência ou da secretaria da Municipalidade. À época, a Intendência Municipal localizava-se na Rua Dr. Montaury, entre a Avenida Júlio e a Sinimbu (atual local da Casa da Cultura). Depois de 1919, a Intendência seria transferida para o prédio do atual Museu Municipal, na Rua Visconde de Pelotas.
“O mal vai se alastrando entre nós”
Edição de 7 de dezembro de 1918 do jornal “O Brazil” voltava a abordar o assunto, alertando para o avanço da doença. Intitulada “A Influenza Espanhola – O mal vai se alastrando entre nós”, a reportagem de capa destacava:
“Está, infelizmente, tomando proporções de certa gravidade a propagação, nesta cidade, da Influenza Espanhola. Tendo se mantido até há pouco tempo numa progressão mais ou menos lenta, dando-nos a esperança de que não se demoraria entre nós, nem nos causaria grandes males, a epidemia – provavelmente devido às mudanças atmosféricas destes últimos dias –, recrudesceu sensivelmente nesta semana, com o aparecimento de grande número de casos novos. Diversas vidas preciosas já o mal tem conseguido ceifar, roubando-as aos afetos da família e ao útil serviço da sociedade.”
O texto de 1918 frisava ainda o número de infectados:
“Sem nenhum exagero de nossa parte e baseando-se em declarações dos médicos assistentes, podemos avaliar o número de gripados no perímetro urbano em 800 pessoas, disseminadas por todos os recantos da cidade”.
Novo hospital
Além do posto de donativos, um hospital para tratamento de enfermos pobres e praças da Guarda Municipal foi instalado pela administração pública. O espaço, de pequenas proporções, localizava-se na Rua Pinheiro Machado e foi viabilizado também graças a uma doação de 500 mil réis feita pela Associação das Damas de Caridade do Hospital Pompéia. Eram elas Ignez Parolini, Antonieta Saldanha, Luiza Ronca, Maria Viale Labourdette, Miloca Corrêa Rosa e Amazília Pinto de Moraes.
Na imprensa em 1918
Confira abaixo as reproduções do jornal “O Brazil” com os textos originais condensados acima.