Pergunte a algum morador de Caxias com mais de 60 anos onde ficava a lomba da usina e, provavelmente, todos vão associá-lo com o trecho da Rua Os Dezoito do Forte entre a Visconde de Pelotas e a Garibaldi. O nome tinha relação, óbvio, com o ponto de referência. Era na esquina da Dezoito com a Visconde que se localizava a antiga Usina Transformadora de Energia Elétrica, responsável por iluminar a cidade a partir de 1913.
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Parte dessa história é recordada na exposição virtual Caxias do Sul: 130 Anos de Emancipação, organizada pelo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami em parceria com o Instituto Memória Histórica e Cultural da UCS (confira ao lado).
Conforme texto contido no capítulo “Urbanização e Cidade”, na época de Colônia e Vila, a iluminação pública era realizada por lampiões a querosene:
“A luz elétrica chegou à área central de Caxias em 13 de maio de 1913, trazida ao longo dos 13 km de fiação que ligavam à usina construída no Rio Pihay (Piaí). A concessão do serviço era feita pelo Banco da Província. No mesmo ano, entrou em funcionamento a usina do Lanifício São Pedro, localizada no distrito de Galópolis. Até então só havia luz elétrica no moinho de Aristides Germani, atualmente conhecido como Moinho da Cascata”.
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Clara e féerica
Notícia publicada pelo jornal “O Brazil” de 15 de maio de 1913 destacou a novidade:
"Terça-feira pela manhã circulou na cidade um convite do Banco da Província convidando o povo para se reunir na praça, a fim de assistir à inauguração oficial da luz elétrica. Às 6 horas da tarde uma banda de música tocava na praça Dante, sendo enorme a aglomeração do povo que ali se achava. Pouco depois, a massa popular desfilou pelas ruas Sinimbu, Visconde de Pelotas e Andrade Pinto (Os Dezoito do Forte) até a usina transformadora. Ali já o movimento de povo era grande. Por convite do sr. João Pinto Ribeiro Filho, gerente da filial do Banco da Província em Caxias, concessionário da luz elétrica, o major Penna de Moraes puxou a alavanca geradora, aparecendo, clara e feérica, a luz benfazeja, por entre palmas da multidão e por entre vivas a Caxias, declarando o major intendente, em breves palavras, oficialmente inaugurada a luz elétrica”.
O Banco da Província
Conforme o texto, após a assinatura da ata, a multidão, puxada pela banda de música, desceu novamente pela Rua Visconde de Pelotas, subindo pela Júlio de Castilhos até o edifício do Banco da Província, “que apresentava feérica iluminação interna”. A saber: o Banco da Província (atual Edifício Província) localizava-se na Avenida Júlio de Castilhos, entre as ruas Borges de Medeiros e Alfredo Chaves. Foi a primeira agência bancária de Caxias, inaugurada no mesmo ano da chegada do trem e da elevação de Caxias à categoria de cidade, em 1910.
O discurso do intendente
Texto do jornal “O Brazil” de 15 de maio de 1913 também mencionou a palavra do intendente José Penna de Moraes, cuja gestão - intercalada com Hércules Galló, José Batista e Adauto Joaquim da Cruz - abarcou o período de 1912 a 1924:
“Regressando o préstito à praça Dante, ali falou o major intendente, fazendo um entusiástico discurso alusivo ao progresso sempre crescente de Caxias, que, jubilosa, inaugurou nesse dia mais um importante melhoramento. Durante o seu discurso, o major intendente lembrou a magna data que transcorria - 13 de maio - a qual assinala para o Brasil um de seus mais dignificantes passos para a civilização”.
Em seguida teve lugar o banquete no restaurante do Clube Juvenil, cujo menu incluiu maionese de galinha, atum, sopa "Julienne", ostras à baiana, galinha ao molho pardo, filé com "petit pois" e galinhas assadas. Entre as sobremesas, doces em calda, pudins e tortas.
O prédio
A Usina Transformadora localizava-se na esquina das ruas Os Dezoito do Forte e Visconde de Pelotas, junto ao prédio onde também funcionou o Colégio Elementar José Bonifácio e, mais tarde, uma das antigas sedes do Clube Juvenil. Mas essa é uma história que abordaremos em futuras colunas.
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A exposição virtual
Com curadoria dos historiadores Anthony Beux Tessari, Mário Tomazoni e Roberto Nascimento, a mostra dos 130 anos é uma parceria entre o Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami e o Instituto de Memória Histórica e Cultural da UCS. Mescla fotos, áudios e vídeos antigos, integrantes dos respectivos acervos. Acesse: sites.google.com/view/caxias130anos.
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