A recente publicação sobre a saga do imigrante italiano Giovanni Toigo durante a construção da Catedral Nossa Senhora da Oliveira, em Vacaria, impulsiona outro história: a do frei capuchinho Efrem de Bellevaux, personagem fundamental para que o templo, um dos mais belos do Rio Grande do Sul, tomasse forma – confira biografia abaixo.
Conforme descrito pelos autores Rovílio Costa e Luiz De Boni na publicação Os Capuchinhos do Rio Grande do Sul (Edições Est, 1996), a nova matriz e futura catedral de Vacaria era uma urgência para os religiosos no despontar do século 20 – o padre Mario Deluy, responsável pelos alicerces, havia sido transferido,e o doutor Manuel da Silveira Gusmão, autor do projeto, morrera.
Com as obras paralisadas, Dom Claudio José Ponce De Leão provisionou, em 1910, frei Pacífico de Bellevaux como novo pároco, para que a igreja avançasse. Consta no livro:
“Frei Pacífico, não concordando com o projeto do Dr. Gusmão, que previa uma matriz muito pequena e de madeira, pediu aos superiores que enviassem Frei Efrem de Bellevaux, arquiteto de renome. Este apresentou logo um novo projeto, em estilo gótico, de acordo com os grandes templos da Europa, à semelhança da Catedral de Notre Dame de Paris”.
Ainda segundo o livro, fora descoberta nas imediações uma pedreira de cantaria, que podia fornecer excelente material de construção, substituindo com vantagem o tijolo, quase inexistente na época:
“Uma maquete, caprichosamente trabalhada a canivete por Frei Efrem, foi exposta, a qual logo chamou a atenção do público. A obra foi subindo lentamente, erguendo para o céu duas altas torres. Internamente, fileiras de belíssimas colunas cilíndricas encimadas por artísticos capitéis servem de base às ogivas da suntuosa abóbada, decoradas com medalhas que simbolizam as ladainhas de Nossa Senhora”.
Trabalhos retomados em 1912, a Catedral só ficaria pronta 22 anos depois.
“Em 1913, Dom Miguel de Lima Valverde, em visita pastoral, disse: ‘Vacaria está construindo um templo suntuoso, mas Deus saberá recompensar tanto sacrifício. Um dia esta igreja será uma Catedral’ ”.
A profecia de Valverde, então bispo de Santa Maria, cumpriu-se em 8 de setembro de 1934, dia da Festa de Nossa Senhora da Oliveira. Foi quando o Papa Pio XI criou a Prelazia de Nossa Senhora da Oliveira de Vacaria.
Imagens desta página foram gentilmente cedidas pelo Museu do Capuchinhos (MusCap), coordenado pelo Frei Celso Bordignon.
O religioso
Jean Louis Bernaz, o Frei Efrem de Bellevaux, nasceu em 12 de agosto de 1883 na comuna de Bellevaux, em Alta Sabóia, na França. Após o noviciado na comunidade de La Roche, chegou ao Rio Grande do Sul em 1903, durante uma missão capuchinha. Ordenado por Dom Claudio Ponce De Leão em 30 de novembro de 1911, em Porto Alegre, atuou posteriormente em Veranópolis e Vacaria.
Pelo reconhecimento de seu trabalho como arquiteto da Catedral de Nossa Senhora da Oliveira, Padre Efrem dá nome a uma escola estadual e uma rua em Vacaria. O religioso faleceu em 10 de março de 1945, aos 62 anos, após 43 anos de vida capuchinha e 33 de presbítero. Está sepultado na Capela Memorial dos Capuchinhos junto ao Convento São Lourenço de Brindisi, em Porto Alegre.
Percepções de um poeta
O poeta e escritor paulista Cassiano Ricardo (1895-1974), que residiu em Vacaria por quatro anos, a partir de 1919, fez menção à obra, segundo os autores Rovílio Costa e Luiz De Boni:
“Vi, então, o vulto de uma igreja toda de pedra, que o Frei Efrem e o seu companheiro há muito tempo estavam levantando, pedra por pedra, com o suor do próprio rosto. Igreja que, mais tarde, viria a chamar a atenção de Gylberto Freire e José Lins do Rêgo”.
A saber: integrante do movimento modernista brasileiro, Cassiano Ricardo é o autor do poema Exortação, cujos fragmentos estão gravados em bronze na porta da cripta do Monumento Nacional ao Imigrante, na BR-116.