A parceria da coluna com o Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami estende-se a alguns conteúdos publicados originalmente no Facebook da instituição. É o caso da recente pesquisa sobre os quiosques da Praça Dante – espaços que ofereciam secos & molhados, fazendas, bilhar e jogos diversos –, cujo surgimento remete ao final do século 19. Confira o texto original – com a grafia “kiosque”:
Os quiosques de madeira começaram a surgir na Praça Dante Alighieri a partir de 1897, na então Vila de Santa Teresa de Caxias. As solicitações, uma iniciativa de comerciantes locais, eram encaminhadas via requerimento. Após aprovação, os contratos eram firmados e assinados na Intendência Municipal, que, nessa época, tinha à frente José Candido de Campos Júnior. O primeiro requerimento para este fim é datado de 12 de junho de 1896. De autoria de Francisco Dal Prá, “vem pedir autorização para poder construir um kiosque na praça Dante e precisamente no canto Noroeste”. O quiosque começou a funcionar em 1897, porém o contrato com a Intendência Municipal foi assinado em 17 de novembro de 1898. O segundo requerimento, de Anuncio Ungaretti, é datado de 15 de agosto de 1897 e diz: “Annuccio Ungaretti, que desejando construir um kiosque na praça Dante do lado Leste, igual ao pertencente a Francisco Dal Pra, vem requerer licença para a referida edificação, sujeitando-se às condições que forem estabelecidas.” O contrato foi assinado na mesma data que o de Francisco Dal Prá, em 17 de novembro de 1898, vigorando desde janeiro de 1897 o de Dal Prá, e desde janeiro de 1898, o de Ungaretti. Posteriormente foram construídos mais dois quiosques de madeira na Praça Dante Alighieri. A história de todos eles será contada nas próximas postagens (colunas).
Na foto acima, de 1909, a Praça Dante Alighieri ainda com muros e cercas, captada a partir da então Rua Júlio de Castilhos. Vê-se o quiosque de Francisco Dal Prá e, ao fundo, na Rua Dr. Montaury, o prédio da antiga Intendência Municipal, local onde hoje situa-se a Casa da Cultura e a Biblioteca Pública Municipal Dr. Demétrio Niederauer.
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Direitos e deveres
O contrato para funcionamento do quiosque de Francisco Dal Prá foi assinado em 17 de novembro de 1898, mas o prazo começou a contar em 1° de janeiro de 1897. Citava as seguintes condições:
:: Construir o kiosque e o jardim, dentro do prazo de seis meses, segundo planta que está junto no requerimento, sendo o mesmo de madeira de lei, alicerces de pedra, paredes de tábuas, porém duplas, coberto de zinco ou telhas, pintado por dentro e por fora, com portas e janelas envidraçadas.
:: Cercar com palanques de madeira de lei e arame, isto no prazo de seis meses, a área de quatrocentos metros quadrados em torno do kiosque e arborizá-lo com casuarinas e outras plantas aclimáveis, até que tais árvores fiquem isentas de serem destruídas por animais de qualquer espécie, com a obrigação de zelar a plantação até o fim do contrato.
:: Gozar do kiosque e jardim pelo prazo de doze anos, a contar de primeiro de janeiro do ano de 1897; conservá-lo sempre em bom estado, pintando-o de dois em dois anos; renovar as paredes no fim de oito anos e entregá-lo, findo o prazo, à Intendência, sem a menor relutância sob pena de multa de cinco contos de réis, cabendo-lhe, porém, a preferência em igualdade de condições, no caso de ser alugado o kiosque.
:: No caso de morte do contratante antes de ter decorrido os seis primeiros anos, os seus herdeiros gozarão do kiosque e jardim até os completar. Dando-se a morte dentro dos últimos seis anos, passará para a Intendência.
Outros detalhes
:: O contrato para o quiosque de Francisco Dal prá foi redigido pelo secretário Oliveiros Sambaquy e assinado por José Candido de Campos Júnior, Intendente Municipal; Francisco Dal Pra, contratante; e Ottilio José Vicentini, testemunha.
:: O quiosque de Francisco Dal Prá era conhecido também como Quiosque do Kin-Kin (Kim-Kim) ou Quiosque do Quequim. Em 1903. denominou-se Kiosque Teutonia, por comercializar a cerveja Teutônia.
:: O quiosque foi demolido em meados de 1910, conforme publicado no jornal “O Brazil”: “A Intendência Municipal está ajardinando um dos ângulos da praça e, dentro em breve, mandará proceder ao nivelamento projetado, fazendo destruir a pedreira existente”.
Fonte: Livro de registro de contratos firmados pela Intendência Municipal, do período 10 de julho de 1890 a 21 de junho de 1902. O documento pode ser acessado em arquivomunicipal.caxias.rs.gov.br.