A segunda parte da coluna sobre a Livraria Saldanha destaca hoje algumas das lembranças do empresário Henrique Saldanha de Figueiredo Filho. Ele foi um dos empresários entrevistados pelo Pioneiro em 1981, para uma matéria sobre o Dia do Comerciante, comemorado em 16 de julho.
A reportagem discorria sobre estabelecimentos tradicionais da cidade mantidos por seus fundadores e familiares, como o Armazém Zatti e a loja de discos da senhora Iria Rauber, ambos em São Pelegrino (fotos abaixo).
A seguir, parte do texto publicado na edição de 17 de julho de 1981:
"Ainda há na cidade lojas mais que cinqüentenárias, de longa tradição e que conservam até nossos dias características semelhantes às de quando foram fundadas. Além disso, em muitos desses estabelecimentos comerciais ainda trabalham os proprietários, parte da história viva de Caxias. Um exemplo desses é Henrique Saldanha de Figueiredo Filho, mas conhecido como "seu Saldanha", cuja loja, na esquina da Av. Júlio com a Rua Visconde de Pelotas, tem se mantido fiel à mesma filosofia da sua fundação. Lá podem ser encontrados os mais diversos brinquedos, de todos os tipos e preços, enfeites, pilhas, balões e as mais inimagináveis quinquilharias e curiosidades.
Seu Saldanha está no ramo há aproximadamente 60 anos e afirmou que não pretende parar de trabalhar. Aos 83 anos, recusou todas as propostas de venda do valioso ponto. "Todos os meses aparece alguém querendo comprar e pagando uma fortuna, mas eu não vou vender", disse. "Só bancos apareceram cinco, mas eu não tenho a mínima intenção de me desfazer da loja".
A Casa Saldanha foi fundada por seu pai em 1916. Toda sua família é oriunda de Rio Pardo. Saldanha contou que, quando sua mãe morreu, ainda na cidade de origem, o pai e os filhos ficaram inconsoláveis e receberam um convite de um tio que morava em Bento Gonçalves para mudarem-se para lá. Algum tempo depois, eles conheceram Caxias e resolveram estabelecer-se na cidade, adotando o ramo do comércio. Logo seu Saldanha passou a tomar conta do estabelecimento.
Para ele, o início foi difícil. Ele relatou que chegava a trabalhar à noite, pois nunca tiveram muitos funcionários. "Eu dormia rapidamente, após o jantar, e depois acordava para ir trabalhar", falou. Segundo Saldanha, ser comerciante sempre foi agradável, em virtude da prosa, do contato direto e do conhecimento da freguesia. Mas ele não é saudosista a ponto de lamentar o aparecimento das grandes lojas e da desumanização da atividade. Apenas preocupa-se em manter seu estabelecimento tal qual ele sempre foi. Até o fim”.
Seu Saldanha faleceu dois anos depois, em 1983. A livraria fechou na sequência – mas as lembranças da mítica loja e suas vitrines seguem na memória coletiva da cidade até hoje.
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A família
Henrique Saldanha de Figueiredo Filho nasceu em 1898, em Rio Pardo, e ganhou o mesmo nome do pai. Após o falecimento da mãe, Palmira do Amaral Lisboa de Figueiredo, em 1915, a família migrou para a Serra Gaúcha – primeiramente estabeleceram-se em Bento Gonçalves, depois em Caxias.
Caçula da prole, "Henriquinho", como também era chamado, tinha outros sete irmãos: Odorico, Antonieta, Anna (Nininha), Aracy (Ciloca), Firmino, Maria Carlota (Lolota) e Palmira (Didila), todos eles dedicados ao jornalismo e à literatura. Proprietários de uma gráfica e de uma editora, os Saldanha editaram jornais em todos os locais onde moraram: O Incôndito (1914), em Rio Pardo; O Intruso (1915), em Bento Gonçalves; e O Estímulo (1916), em Caxias.
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Venda e retorno
Conforme informações do Arquivo Histórico Municipal, Henrique fundou a Livraria Saldanha em sociedade com o pai e o irmão em 1916, vendendo-a, em 1947, para a firma Calcagnotto & Cia. O negócio foi retomado em 1952, quando ele registrou a firma com o nome de Henrique Saldanha Filho e a razão social "Casa Saldanha".
Na Praça Dante em 1926
Na imagem acima, o jovem Henrique (em primeiro plano, à esquerda) aparece junto a amigos em 1926, no acesso à extinta balaustrada da Estátua da Liberdade, na Praça Dante Alighieri, tendo ao fundo o quiosque de Adelino Sassi, a Catedral Diocesana e um dos clássicos leões esculpidos por Michelangelo Zambelli (hoje no acesso ao Parque Cinquentenário).
Entre outros aparecem Francisco Crisostomo Gonçalves, Dinarte de Oliveira Soares, José Gazola, Armando Müller, Júlio Sassi, Carlito Crisostomo Gonçalves, Armando Azevedo, Gastão Festugato, João Falcão, Clodoveu Gaviolli, Vitório Pettinelli e Antônio Veiga.
Abaixo, seu Saldanha durante uma homenagem ocorrida em 1973. Ele aparece entre os ex-prefeito Mario David Vanin e o senhor Osvaldo Ferreira (em pé).
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