A memória religiosa do distrito de Santa Lúcia do Piaí está diretamente atrelada à trajetória do padre Leduvino Benedicto Lazzarotto. Conforme informações compartilhadas pelo historiador Éder Dall’Agnol dos Santos, o religioso nasceu em 21 de novembro de 1933, na Linha São Maximiliano. Primeiro filho do casal João Maria Lazzarotto e Victória Binotto, Leduvino frequentou a escola primária da localidade e, como todas as famílias da região, era assíduo da Capela de São Maximiliano, onde recebeu a primeira comunhão.
A vocação foi sendo descoberta aos poucos, a partir do contato com os sacerdotes que vinham de outras localidades para rezar as missas e administrar os sacramentos, tanto na Linha São Maximiliano quanto nas demais comunidades rurais do distrito. Observando a vida desses missionários que percorriam quilômetros a cavalo ou no lombo de mulas para levar os ensinamentos da Igreja católica, o jovem Leduvino começou a manifestar a vontade de entrar na vida sacerdotal.
O início
Em 14 de julho de 1947, aos 14 anos, Leduvino foi encaminhado pelo pai, João Lazzaratto, ao Seminário Menor de Santa Lúcia do Piaí – pai e filho percorreram a pé o percurso de 12 quilômetros da Linha São Maximiliano, onde a família residia, até a então Vila de Santa Lúcia. No seminário, Leduvino fez exame de admissão e cursou o ginásio no período de 1948 a 1951.
Porém, logo após concluir o 1º ano do curso colegial, em 1952, surge a informação de que o seminário encerraria suas atividades. Nessa mesma época, o jovem recebe a notícia do incêndio da casa dos pais, ocorrido em 20 de dezembro de 1951 _ o sinistro deixou a família praticamente sem nada, salvos apenas os documentos e o fogão a lenha. Era a hora de ajudar a família e buscar a continuação dos estudos em outro seminário…
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Mudança para Pelotas
Com o fechamento do seminário em Santa Lúcia do Piaí, Leduvino foi informado que haveria a possibilidade de ir para o Seminário Diocesano de Pelotas – enviou imediatamente uma carta ao reitor, recebendo o retorno de que não havia vagas. Mesmo assim, resolveu ir.
No Seminário São Francisco de Paula, teve de se instalar provisoriamente no corredor, onde ficou por três meses – não havia lugar para sua cama no dormitório. Lá, cursou o 2º e 3° anos do colegial, entre 1953 e 1954. A sequência dos estudos motivaria uma nova mudança: Leduvino migrou para o Seminário Maior de Viamão onde, de 1955 a 1957, cursou a Faculdade de Filosofia. Graduado, voltou para Pelotas em 1958, onde fez estágio de um ano e meio como professor de Filosofia no Seminário Menor. Posteriormente, no Seminário Maior de Viamão, faria a Faculdade de Teologia, de 1959 a 1962.
Leduvino Lazzarotto foi ordenado sacerdote pelo bispo diocesano de Pelotas, Dom Antônio Zattera, em 15 de dezembro de 1962, conforme vemos nas imagens acima e abaixo, captadas pelo fotógrafo Fiorentino Cavalli e integrantes do acervo da irmã Norma Lazzarotto Camargo.
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No Pioneiro em 1952
Após o incêndio de dezembro de 1951, João Maria Lazzarotto, pai de Leduvino, dirigiu-se até a redação do Pioneiro para pedir ajuda (roupas, utensílios de trabalho, ec). Em breve matéria (abaixo), o jornal destacava a situação:
"Estamos certos de que Caxias do Sul não deixará de auxiliar este trabalhador, que se viu atingido de tamanha desgraça".
A saber: João Dall’Agnol Filho (Nanetti), bisavô do pesquisador Éder Dall'Agnol dos Santos, doou todas as madeiras para a construção da nova casa.
A família
A família de João Maria Lazzarotto e Victória Binotto, composta de 11 filhos, continuou morando e trabalhando no interior da Linha São Maximiliano até 3 de dezembro de 1963. Foi quando mudou-se para Caxias do Sul, no então bairro Cruzeiro, onde permanecem até hoje alguns de seus filhos e descendentes do casal.
Parceria
Colaborador da coluna Memória, o historiador Éder Dall'Agnol dos Santos vem pesquisando a trajetória de diversas famílias que ajudaram a colonizar o distrito de Santa Lúcia do Piaí desde finais do século 19. O trabalho, segundo ele, deverá ser transformado em livro em breve.
Moradores do distrito que tenham interesse em colaborar com fotos e dados sobre suas famílias ao longo do século 20 podem entrar em contato pelo e-mail ederdallagnol89@gmail.com ou telefone/whatsapp (54) 98449.9186.
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