Há 50 anos, em 2 de julho de 1969, Caxias despedia-se de uma de suas personagens mais emblemáticas: dona Ermelinda Viero Gianella, responsável, juntamente com o marido Matteo, pelo surgimento e consolidação do Lanifício Gianella, a partir de 1915, no então "Arrabalde de Santa Catarina".
Nascida no interior de Galópolis em 27 de junho de 1893, Ermelinda Viero Gianella casou com Matteo Gianella em 4 de março de 1916, nascendo dessa união os filhos Doviglio, Remo, Itália e Elite, atualmente com 90 anos.
Após a morte de Matteo, em 14 de novembro de 1942, Ermelinda e os filhos tomaram a linha de frente do negócio – a boa aceitação dos produtos do lanifício contribuiria para o surgimento, tempos depois, da Fiação Ermelinda Gianella, dos clássicos Fios Vovó (abaixo).
Na imagem acima, Ermelinda Viero Gianella (C) e parte da família em 1963, nas terras do lanifício, no bairro Santa Catarina. A partir da esquerda estão Maria Bay, Aurora Pezzi Ungaretti, Oscar Bay Filho, Sandra Bay, Lenira Maria Gianella, Leila Maria Gianella, os irmãos Elite, Itália e Remo Gianella, Ana Beatriz Tonnoli (de tiara, ao lado de Ermelinda), Lívia Viero Rotta, Tarcísio Tonolli, Ulysses Baldisserotto, Mari Pezzi Gianella e Atílio Mondadori (agachado, à direta). As crianças à frente são os netos Matteo, Paulo, José Carlos, Isabel e Maria Elisa.
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Na imprensa
Anúncio fúnebre no jornal Pioneiro de 26 de julho de 1969 antecipou o convite para a missa de 30º dia de falecimento da matriarca, a ser realizada em 1º de agosto.
"Lanifício Matteo Gianella Ltda, Fiação Ermelinda Gianella S.A e familiares da inesquecível Ermelinda Viero Gianella vêm por este meio, profundamente sensibilizados, agradecer ao dr. César Serafini pelo carinho e desprendimento que, aliados à sua competência médica, tudo fez para prolongar tão preciosa existência. Agradecem à Sua Excelência Reverendíssima Dom Benedito Zorzi, bispo de Caxias do Sul, pela bênção especial enviada durante a enfermidade da extinta e pelos votos de pesar após o doloroso transe.
Agradecem ao reverendo padre João Sachet, vigário do bairro Santa Catarina, que, durante anos, prestou assistência espiritual. Agradecem a piedosa missa concelebrada pelos reverendos padres Eugênio Giordani, Adelino Baungartner, Adelino Schneider, Angelo Tronca, Orestes Valeta, Júlio Giordani, Raul Acorsi, Rui Boza, Frei Aloísio, Frei Juvenal e Sadi Covolan.
Agradecem as palavras cheias de fé cristã, proferidas durante as cerimônias fúnebres pelos reverendos padres Orestes Valeta, João Sachet e Eugênio Giordani. Agradecem, de maneira especial, a todos os amigos e ao povo em geral pelas inúmeras manifestações de pesar e de amizade que receberam por ocasião do falecimento, aos que compareceram aos atos de encomendação e sepultamento e aos que enviaram coroas, flores, cartões e telegramas de condolências.
Outrossim, convidam para as missas de 30º dia, que serão celebradas dia 1º de agosto próximo, às 18h30min, na Igreja Matriz de São Pelegrino, e dia 2 de agosto, às 17h, na Igreja Matriz de Santa Catarina. Pelo comparecimento a mais este ato de piedade cristã, antecipam agradecimentos.
Caxias do Sul, 26 de julho de 1969".
Nas reproduções abaixo, o anúncio original no Pioneiro de 50 anos atrás.
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Peregrinação na casa
A forte ligação comunitária da família Gianella traduziu-se em várias frentes: na construção da igreja, na fundação do Grêmio Esportivo Gianella, nas festas da padroeira, na geração de milhares de empregos e no auxílio aos moradores mais carentes do bairro Santa Catarina.
Boa parte da identificação da comunidade caxiense com o Lanifício Gianella centrava-se na figura da matriarca. Tanto que quando "nona Ermelinda" faleceu, em 2 de julho de 1969, a população em peso passou pelo velório, realizado no casarão da família, junto ao lanifício.
O neto José Carlos Tonolli, filho de Elite Gianella e Tarcísio Tonolli, tinha 14 anos na época e lembra bem do cenário:
– A casa lotou de gente, vinham amigos, funcionários, moradores do bairro, famílias, crianças, políticos, autoridades, empresários. Tiveram de reforçar a estrutura com estacas no porão, pois achavam que o chão ia ceder.
Edição do Pioneiro de 5 de julho de 1969 destacou toda aquela peregrinação:
"As cerimônias fúnebres foram realizadas quinta-feira com grande acompanhamento, que bem revelou a estima que era devotada àquela veneranda senhora, que contribuiu durante sua laboriosa existência para o desenvolvimento e o progresso desta cidade".
O jazigo dos Gianella
Ermelinda Viero Gianella faleceu aos 76 anos. Ela está sepultada ao lado de Matteo no jazigo da família, no Cemitério Público Municipal de Caxias do Sul. Lá também estão os filhos Remo e Doviglio, a nora Mari Pezzi Gianella, os genros Ulysses Baldisserotto e Tarcísio Tonolli e a cunhada Margherita Gianella (irmã de Matteo).
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50 anos
Filha mais velha de Ermelinda, dona Itália Gianella Baldisserotto faleceu aos 94 anos no último dia 5 de julho, 50 anos após a morte da mãe, em 2 de julho de 1969.