A imagem de São José está meio encardida, Jesus não possui um dos braços e a base está com o nome levemente apagado. Aos olhos de um leigo, a escultura passaria por um santo comum, desses de gesso encontrados em lojas de objetos sacros. Não para o historiador Juventino Dal Bó, 67 anos.
Ex-diretor do Museu Municipal, do Arquivo Histórico e do Departamento de Memória e Patrimônio de Caxias do Sul, Dal Bó sabia que estava diante de uma peça rara. Primeiro, por ser confeccionada em madeira. Segundo, por ter sido localizada no porão de uma casa semi-abandonada em São Marcos, em meio a entulhos.
Datado do final do século 19 e muito provavelmente de propriedade de alguma família de imigrantes italianos ou seus descendentes, o exemplar foi adquirido por escambo:
– Lembro que a dona da casa disse: "Se tu me trouxer uma estátua bem bonita de São José, eu te dou essa feia".
Recordado junto à escadaria do misto de residência e museu particular onde Dal Bó mora, no bairro São Pelegrino, o episódio exemplifica à perfeição uma prática que atiça colecionadores, donos de antiquários, "ratos" de briques e aficionados por objetos antigos, raros ou não: o garimpo. Não por acaso, Caxias viu pipocar nos últimos anos lojas, bazares e feiras itinerantes visando abastecer esse tipo de consumidor.
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Colecionador desde sempre
A atuação de Juventino Dal Bó no Museu Municipal a partir de 1974, ainda como estagiário do curso de História da UCS, acentuou um gosto por objetos antigos perceptível desde sempre – na época, Caxias celebrava o centenário da imigração italiana, e, juntamente com a diretora Maria Frigeri Horn, Dal Bó e equipe percorriam o interior em busca do acervo típico da colonização para formatar o espaço.
– Garimpava para mim e para o museu. Aprendi a gostar das peças daqui e a enxergá-las com outro olhar – lembra.
Logo, os livros, cartões-postais e santinhos religiosos dos tempos de guri foram recebendo a companhia de vasos, jarros, louças, cerâmicas, lustres, baús, móveis, malas, cristais e peças esmaltadas da virada do século 19 para o 20, a maior parte garimpada em casas de famílias, porões, sótãos e celeiros.
Obviamente, toda essa exuberância “forrou” de tal forma o apartamento do historiador, na Rua Coronel Flores, que uma nova casa precisou ser providenciada. E foi sendo construída nos fundos do terreno da residência da família, na Rua José do Patrocínio, em São Pelegrino.
– Lembro que foram dois dias de mudança e três caminhões.
É lá que, desde 2010, Dal Bó mantém um acervo que não para de crescer – e abarrotar os dois andares de moradia, mais o porão, a garagem, o sótão, as varandas, o jardim e o quiosque. A última aquisição veio do Brique da Redenção, em Porto Alegre, visitado domingo: um conjunto de cerca de 200 fotos antigas de um álbum de família das décadas de 1930 e 1940, arrematado por R$ 50.
Quem são? O colecionador não sabe, mas isso não é relevante quando o que está em jogo é a paixão pelo objeto de desejo: os retratos de época, suas nuances, poses, vestimentas e cenários (fotos ao lado). Abrindo a cristaleira que abriga dezenas desses álbuns e destacando a qualidade das fotos, Dal Bó resigna-se:
– Acho incrível como as pessoas se desfazem ou jogam no lixo a história de suas famílias.
Confira abaixo outros detalhes do rico acervo.
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