O aniversário de 60 anos do Fusca, o besouro brasileiro, produzido por aqui a partir de 1959, coincide com os 50 de uma tradição da Festa da Uva: presentear a rainha com um automóvel. Em 1969, a vencedora do certame, Elisabete Menetrier, foi contemplada com um modelo bordô (cor de uva, lógico) oferecido pela Vinícola Michielon — uma prática que se estende até hoje, ora pela comissão organizadora do evento, ora pelas entidades patrocinadoras (leia mais abaixo).
Escolhida durante um badalado baile em 24 de novembro de 1968, na sede social do Recreio da Juventude, Elisabete reinou acompanhada pelas princesas Elizabeth Corsetti, Jocélia Pizzamiglio, Lisana Schumacher e Ana Cristina Rodrigues. Matéria publicada no Pioneiro de 30 de novembro de 1968 destacou a premiação e, logicamente, o Fusca:
"Passados os primeiros segundos de emoção, Silvia Ana Celli (soberana de 1965) despediu-se como rainha com uma breve oração cheia de inteligência e de palavras bem pensadas, e então o sr. Roberto Michielon, entregou a rainha Elizabete Maria Menetrier o prêmio da firma Luiz Michielon S.A, ofertando à mesma a chave do Volkswagen zerinho quilômetro".
Na imagem abaixo, um raro registro do Fusca, com a referência da Vinícola Michielon, onde a jovem Marileudes Meyrer trabalhava como recepcionista. É ela, inclusive, quem aparece desfilando sobre o carro.
Falando nisso, por onde será que ele anda?
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50 anos depois
Rainha da Festa da Uva 2019, Maiara Perottoni ganhou um Fiat Mobi do Supermercados Andreazza, uma das entidades que patrocinaram a então candidata, que representava ainda a Lorigraf e a Festa do Vinho Novo. A entrega ocorreu durante um badalado filó realizado em Forqueta, em agosto do ano passado.
Besouro sessentão
Resistente, fácil de conduzir e de estacionar, com manutenção barata, o icônico automóvel Volkswagen Sedan tornou-se brasileiro em 1959, quando, em São Bernardo do Campo (SP), a Volkswagen do Brasil iniciou sua produção em série. Antes, já circulava no país em bom número, desde 1950, pois alguns eram montados aqui e outros importados diretamente da Alemanha, onde seu projeto nasceu nos anos 1930.
Durante décadas, o desenho de sua carroçaria não mudou, e as pequenas modificações ocorriam na configuração de itens como os faróis, janelas, maçanetas e lanternas traseiras, sempre ampliados. Criado para ser o "carro do povo", significado do próprio nome no idioma germânico, seu preço era baixo, o que contribuiu para que ele logo tomasse conta das ruas.
Em Caxias, a revendedora autorizada era a Wisintainer Comércio de Automóveis Ltda., então situada à Rua Sinimbu, 135 — conforme vemos no anúncio abaixo, publicado na edição do Pioneiro de 4 de janeiro de 1969.
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Frota de táxis
Claramente contrariando o bom senso, o carrinho de apenas duas portas foi também incorporado com sucesso à frota de táxis do país, exigindo para isso a esdrúxula adaptação que removia o banco dianteiro do carona para facilitar o acesso dos passageiros ao interior do veículo.
Nessa época, não foram poucos os usuários que, sem afivelar o cinto de segurança, foram lançados contra o taxímetro e o painel (com graves consequências) durante eventuais colisões.
Os apelidos
Donos da paisagem urbana, logo foram ganhando apelidos carinhosos, como besouro, fuca, fusquinha, fuscão, Itamar e Fusca, este último adotado pela própria fábrica e transformado em nome próprio a partir de 1983.
Depois de uma interrupção por sete anos, que parecia ter aposentado definitivamente o besouro brasileiro, durante o governo do presidente Itamar Franco, a produção do modelo foi retomada, em 1993, para ser, aí sim, encerrada ao que tudo indica para sempre, em 1996.
O último exemplar da espécie, no mundo, foi feito no México, em 2003.
Com informações da coluna Almanaque Gaúcho, de Zero Hora.
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