Os 70 anos do épico O Tempo e o Vento, lançado em 1949 com o primeiro volume de O Continente, joga luzes sobre a passagem do escritor Erico Verissimo por Caxias do Sul há 62 anos. Foi em 11 de dezembro de 1956, quando o autor chegou à cidade para uma palestra promovida pelo Departamento Cultural do Recreio da Juventude, em parceria com o Centro Cultural Brasileiro-Norte- Americano e a Rádio Caxias.
Matéria de capa do Pioneiro daquela semana destacou a visita, colhendo algumas impressões do escritor sobre a cidade:
"Volto a Caxias satisfeito de rever esta terra amiga e trabalhadora. E nos três anos que passei nos Estados Unidos fazendo conferências e palestras, viajando por todo o território americano, sempre me lembrava de Caxias. Sim, porque quando eu falava no Brasil, falava no Rio Grande e quem fala no Rio Grande menciona Caxias do Sul. E digo isso não para vos agradar, mas citava Caxias como exemplo de cidade de vitalidade moça, trabalhadora, cheia de energia e entusiasmo. Mostrava o que de bom e salutar aqui nos trouxeram os imigrantes. Citava seu progresso e ascenção. E hoje volto satisfeito a Caxias, porque ela ocupa um lugar de destaque na minha geografia sentimental. Tanto assim que atendi em pronunciar aqui uma palestra, antes mesmo de fazê-lo em minha terra natal, Cruz Alta".
Perguntado sobre novos livros de sua autoria a serem publicados e outros vertidos ao cinema nacional e estrangeiro, afirmou:
"O cargo que ocupei nos Estados Unidos prendeu-me todo o tempo. Não pude escrever. Mas estou com o terceiro volume da coleção das histórias do Rio Grande - "O Retrato", a primeira; "O Tempo e o Vento", o segundo; e agora o terceiro, que vai de 1924 até nossos dias, onde os personagens, muitos deles pelo menos, são vivos e oferecem dificuldade, mas é exatamente isso que anima um escritor. Não vi ainda o filme "O Sobrado", extraído de "O Tempo e o Vento", o que farei logo que se me oferecer a oportunidade".
Na foto acima, Verissimo é entrevistado pelo radialista, professor e ex-diretor da Biblioteca Pública Municipal Nestor Gollo. O cenário é a mansão do empresário e antigo diretor da Metalúrgica Abramo Eberle Caetano Pettinelli, onde o escritor ficou hospedado. A imagem foi reproduzida do livro "A História nas Estantes", lançado por Marcos Fernando Kirst por ocasião dos 60 anos da Biblioteca Pública, celebrados em 2007.
Abaixo, a reprodução da capa do Pioneiro de 15 de dezembro de 1956, destacando a passagem do escritor pela cidade. Na foto à direita, Erico aparece junto a Caetano Pettinelli.
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Obra seminal
Ameaçado pelo viés fascista que se instalou no governo do Brasil com o Estado Novo (1937-1946), Erico Verissimo, já um escritor consagrado, além de tradutor e conselheiro literário da Editora Globo, em 1943 decidiu aceitar convite da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e para lá se mudou com a esposa e os dois filhos.
Corria o ano de 1943 quando ele estabeleceu-se como professor de Literatura Brasileira no campus da cidade de Berkeley. Erico e a família ficaram em território norte-americano até meados de 1946. Na volta, o autor começaria o projeto do livro que se consagraria como uma obra seminal na literatura gaúcha. Previsto para ter um só volume, com aproximadamente 800 páginas, e ser escrito em três anos, O Tempo e o Vento acabou ultrapassando as 2,2 mil páginas, sob a forma de trilogia, consumindo 15 anos de trabalho do autor.
A trilogia
O Tempo e o Vento é uma trilogia que se divide em três tomos: O Continente (dois volumes); O Retrato (dois volumes); e O Arquipélago (três volumes). O romance conta a saga das famílias Terra e Cambará ao longo de 200 anos, desde a ocupação do Continente de São Pedro, começo do século 18, até o fim do Estado Novo, quase metade do século 20.
Do lançamento, em 1949, até os dias atuais, O Tempo e o Vento e, especialmente, O Continente, no qual se sobressaem os personagens Ana Terra e Capitão Rodrigo Cambará, mereceram numerosas reedições, além de adaptações para o cinema e a televisão.
Parceria
Parte da informações desta página foi reproduzida da coluna Almanaque Gaúcho, do colega Ricardo Chaves, de Zero Hora.