O livro foi lançado no início dos anos 2000, mas a rica trajetória dos dentistas que atuaram em Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Garibaldi entre o final do século 19 e meados da década de 1960 sempre merece ser revista – seja pela relevância da atuação desses profissionais no cotidiano dos moradores da Serra ou pelas curiosidades e desafios de cada época, tanto na cidade quanto no interior. Foi o que fez a autora Teresinha Rihl Tregansin na publicação O Dente de Ouro – Dentistas Prático-Licenciados nas Colônias Italianas do RS (1897-1960).
Fruto de um extenso trabalho de pesquisa, a obra contextualiza a saúde bucal nas antigas colônias, os pioneiros profissionais a atuar na região e os procedimentos odontológicos das primeiras décadas do século 20. Mas são as histórias de vida, as andanças a cavalo pelo interior, os consultórios itinerantes e dezenas de outras curiosidades que fazem o leitor embarcar em uma viagem no tempo e conhecer a saga de nomes bastante lembrados até hoje — principalmente entre os pacientes mais antigos.
Entram aí representantes da família Postali (Primo, Silvino, Abel e Aparício), Dionísio Della Giustina, os Juchem (Alfredo, Leopoldo, Jacob e Agnello), Ivo Arno Rihl, Rodolpho Fortunato Locatelli, Antonio Silvestre Nonnenmacher, Balduíno e Edmundo Schumacher, José Polesso Filho, Oscar e Canísio Puhl, Demétrio Moreira da Luz, e Edmundo e Hilário Hilgert.
Impossível mesclar tantas histórias em apenas uma abordagem, portanto, parte dessas trajetórias será recontada aos poucos, em futuras colunas. Abrindo a série, um pouco sobre a atuação do descendente de alemães Antonio Silvestre Nonnenmacher.
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Antonio Silvestre Nonnenmacher
Nascido em São Sebastião do Caí em 1900, Antonio Silvestre Nonnenmacher começou a atuar em Santa Lúcia do Piaí em 1923, após o aprendizado prático realizado no município de Montenegro. Conforme descrito pela autora, o jovem atendeu no interior até 1936, tendo como principal pagamento pelos serviços odontológicos e de higiene bucal uma mesa farta em produtos coloniais (frutas, verduras, ovos, carnes) ofertados pelos colonos.
A mudança para a Caxias urbana deu-se nos anos 1940, quando Nonnenmacher instalou seu consultório inicialmente na Rua Dr. Montaury e, posteriormente, na Avenida Júlio de Castilhos, ambos na área central. O dentista costumava acompanhar os colegas em especializações em Porto Alegre e Montevidéu, onde aprendeu a fazer, por exemplo, uma "coroa de jaqueta de acrílico", a novidade da época. De volta à cidade, o prático teve no amigo alfaiate Edmundo Fadanelli uma espécie de "cobaia" para essas primeiras experiências — Fadanelli possuía uma sala de trabalho contígua à sua.
Por volta dessa época, o profissional também confeccionou uma dentadura especial para o empresário Kalil Sehbe. Segundo descrito no livro, era uma prótese dotada de molas de ouro presas com parafusos fixados no primeiro molar superior e no inferior, na mesma altura.
Na vida pessoal, Nonnemmacher era um assíduo jogador de bocha (foi campeão do Recreio Guarany) e tocava pistom em uma bandinha típica alemã. Ele foi casado com Mathilde Henz e teve cinco filhos: Nair, Edite Catarina, Suely, Olavo e Aluysio Edson. O dentista, que faleceu em 1966, aos 66 anos, dá nome a uma rua no bairro Desvio Rizzo.
Informações reproduzidas do livro O Dente de Ouro, de Teresinha Rihl Tregansin
Ilustrações
Além de reproduzir dezenas de fotos, o livro traz a colaboração da artista plástica Rita Brugger, com ilustrações fazendo referência ao cotidiano profissional e pessoal dos perfilados (fotos acima e abaixo).
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