Selfies não são coisas do mundo digital, muito menos do século 21. Bem pelo contrário. Reflexos, fusões, autoimagens, montagens e dezenas de outros artifícios foram experimentados por centenas de fotógrafos ao longo do século 20. Em Caxias do Sul, nas mais diversas épocas, nomes como Ulysses Geremia, Julio Calegari, Ary Cavalcanti, Clemente Tomazoni, Mauro De Blanco e Reno Mancuso, entre outros, costumavam recorrer a truques e "brincadeiras" para seduzir os consumidores ou simplesmente se divertir no laboratório.
Nos registros desta página, algumas experiências feitas pelo fotógrafo Reno Mancuso (1919-1974) entre os anos 1940 e 1950. Na imagem acima, Reno "triplica" o filho mais velho, Domingos Mancuso (mesmo sobrenome do avô italiano) durante a revelação. Na sequência, outro experimento em família, numa época em que cigarros e charutos transitavam livremente nas fotos com crianças. Por fim, Reno registra o filho Sergio Prates Mancuso e "revela-se" no espelho sobre o balcão.
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O estúdio
No início da década de 1950, o estúdio Foto Mancuso localizava-se na Av. Júlio de Castilhos esquina com a Rua Garibaldi, junto ao sobrado da antiga Farmácia Confiança. Conforme Renan Carlos Mancuso, filho caçula de Reno, além do estúdio, o pai mantinha uma pequena loja de materiais fotográficos e ópticos.
Recentemente, o filho, que mantém o blog www.caxiaspormancuso.blogspot.com, comentou a imagem:
"Nas máquinas antigas, havia uma espécie e controle remoto que consistia em um cabo, acho que de aço. Uma mola comprida era enrolada no cabo e um botão em uma das extremidades, que ao apertar empurrava o cabo, que acabava clicando o botão da máquina. Era mais ou menos assim, lembro que meu pai tinha um desses. Meio arcaico, mas dava umas selfies. Algumas vezes eles aumentavam o tempo e abertura o diafragma e saiam correndo para se juntar ao resto da família. Muitas vezes não dava tempo e só aparecia o vulto do cara tentando se posicionar".
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De pai para filho
Um dos perfilados do livro O Instante e o Tempo, lançado em 2015 pelo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, o fotógrafo Reno Mancuso deu sequência ao ofício que também marcou a trajetória profissional do pai, o italiano Domingos Mancuso (1885-1942).
Se Domingos registrou a cidade e a região nos primórdios do século 20, principalmente a época da chegada do trem, em 1910, Reno tratou de eternizar Caxias a partir de 1937, quando assumiu o estúdio – localizado na Rua Sinimbu, entre a Visconde de Pelotas e a Dr. Montaury, nas imediações da Galeria Fonini.
Era o período em que a cidade começava a se modernizar, recebendo calçamento nas ruas centrais, casas de alvenaria, um crescente número de estabelecimentos comerciais e os primeiros prédios residenciais. Atuando inicialmente como retocador e auxiliar do pai, Reno tomou a linha de frente do atelier Mancuso Caxias após Domingos perder parte da visão, em decorrência do contato com os produtos químicos do laboratório.
No início dos anos 1940, ele transferiu o estúdio para a Av. Júlio de Castilhos, ao lado do Clube Juvenil. Posteriormente, o estúdio migrou para a Avenida Júlio, esquina com a Rua Garibaldi.
Na imagem acima, Reno e seu irmão Cyro Mancuso por volta de 1937, no atelier Foto Mancuso Caxias. A imagem foi uma das últimas feitas por Domingos Mancuso.
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