Chegar aos 100 anos é um presente que a vida concede a poucos felizardos. Quando essa data se funde com a história de uma empresa que está entre as mais queridas pelos consumidores gaúchos, principalmente nas cidades da Serra, a comemoração pode, e deve, ser dupla. Na última terça, dia 24, Hilga Kirst Bender celebrou seu centenário, destacando nessa trajetória um cotidiano ímpar: acompanhar de perto, junto ao pai, Emílio Kirst, e à mãe, Olinda Schreiner, o surgimento (em abril de 1924, porém no dia 29) da Companhia Bela Vista, que mais tarde viria a se transformar na Bebidas Fruki, uma das principais fabricantes de bebidas do sul do país.
Nascida em 1918, dona Hilga tinha seis anos quando a empresa surgiu. Passou a infância e a adolescência em Arroio do Meio, onde conheceu seu marido, Walter Luis Bender. Com o empreendedorismo do pai, Hilga viveu sempre uma dura jornada de trabalho. Ela e os irmãos participavam de algumas etapas da produção de bebidas, cerca de 200 garrafas de gasosa por dia. As meninas tinham como atribuições preparar a cola para fixar os rótulos, bater as claras de ovos em neve para clarificar xaropes e lavar as garrafas que retornavam para a fábrica.
— Pela manhã, íamos à escola, à tarde, trabalhávamos na fábrica. Não tínhamos tempo para brincar. Ficávamos trabalhando com aquelas máquinas manuais de engarrafamento. Ajudávamos a lavar as garrafas, introduzindo nelas bolinhas de metal que agitávamos com água para que soltassem os resíduos que se grudavam por dentro do vidro. Lembro que havia três tanques onde fazíamos este serviço. Éramos pequenas e tínhamos de subir em engradados para alcançar os tanques. Era ali que mergulhávamos as garrafas para soltar os rótulos velhos e depois colar os novos — lembra dona Hilga, mãe de três filhos: Juarez, Juanita e Renato, avó de seis netos e bisavó de dois.
Lembranças
Renato lembra que a mãe sempre foi uma mulher muito ativa.
— Ajudou meu pai, que trabalhou com hotelaria em Ijuí e, mais tarde, com restaurante e churrascaria em Porto Alegre. Depois que ficou viúva, passou a viajar bastante, conhecendo outros países. Sempre gostou muito de dançar e de escutar música. Agora, sem condições físicas de dançar, fica junto ao computador ouvindo músicas de sua infância e adolescência. Ela também faz questão de acompanhar o noticiário com a nossa ajuda, pois acha as letras dos jornais muito pequenas. Vai a um encontro mensal com amigas e participa com frequência do café dos idosos na Igreja Luterana Cristo. Seus exames revelam que está muito bem de saúde, embora tenha alguma dificuldade de locomoção, o que a obriga a recorrer a uma cadeira de rodas — conta.
Na foto que abre a matéria, o casal Emílio e Olinda com os filhos por volta de 1928. A partir da esquerda estão dona Hilga, Elma, Walter, Albano, Bruno e Anita. Ao centro, a caçula Melita.
Parte das informações desta coluna foi publicada originalmente na terça-feira, dia 24, pelo colega Ricardo Chaves, titular da coluna Almanaque Gaúcho, do jornal Zero Hora.
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A empresa
Prestes a completar 94 anos, dia 29 de abril, a Fruki também carrega uma história de sucesso. A empresa tem sua matriz e o parque industrial localizados numa área de 25 mil metros quadrados em Lajeado, além de centros de distribuição em Caxias do Sul, Canoas, Pelotas, Santo Ângelo e também junto à matriz.
As sete linhas de produção automatizadas têm capacidade para fabricar até 420 milhões de litros de bebidas por ano. Produz refrigerantes da marca Fruki, os suplementos energéticos Frukito, a linha de sabores intensos, com água tônica e citrus, os sucos COM/TEM e o energético Elev e engarrafa a água mineral Água da Pedra.
Atualmente, a Fruki conta com aproximadamente 850 profissionais, atuando no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
História em livro
Em 2009, o escritor e colunista do Pioneiro Marcos Fernando Kirst resgatou a trajetória de 85 anos da empresa no livro Fruki: Uma História com Sabor, lançado pela editora caxiense Belas Letras.
Fruki e cerveja
Em 2018, a Fruki também começará a produzir cerveja artesanal. É uma espécie de retorno às origens. Quando surgiu, em 1924, em Arroio do Meio, a pequena fábrica de Emilio Kirst também abrigava uma cervejaria.
Curiosidades
No site oficial da empresa consta uma linha do tempo, com diversas curiosidades e rótulos do início da fábrica. Em 1935, por exemplo, é firmado o contrato social sob a razão social de Kirst & Cia. A empresa produz refrigerantes, cervejas, vinagre e aperitivos com a marca Bela Vista. Já em 1949, a Kirst & Cia firma uma parceria para a produção do refrigerante Laranjinha, um grande sucesso na época (foto abaixo).