Não há morador do bairro Santa Catarina que não tenha alguma história relacionada ao antigo Lanifício Gianella – vivida ou contada por pais, avós, amigos e vizinhos. Não é pra menos. Desde o surgimento, em 1915, o império fundado pelo casal Matteo Gianella e Ermelinda Viero Gianella foi o impulsionador não apenas do setor têxtil da cidade. Sua diversificada produção (feltros, bacheiros, cobertores, casacos, etc) traduziu também a prosperidade da então 9ª Légua de Caxias, turbinada pelo aproveitamento das águas do Arroio Marquês do Herval (Tega).
Na imagem maior acima, um dos momentos mais aguardados do calendário da fábrica: a distribuição anual de ranchos. Foi às vésperas do Natal de 1941, no pátio do lanifício. Junto à mesa aparecem os irmãos Doviglio e Remo Gianella, que assumiram os negócios após a morte de Matteo, em 14 de novembro de 1942.
Na gaveta, as fichas com os nomes dos operários, que iam sendo chamados, um a um, para receber a cesta. Abaixo, um detalhe da entrega, onde vê-se Doviglio (de chapéu e camisa branca, à esquerda), o jovem Leonildo Bosa (de casaco escuro, ao centro) e o funcionário Rômulo Cassina (de perfil, à esquerda).
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Os produtos
Conforme dona Elite Gianella Tonolli, 89 anos, filha caçula de Mateo e Ermelinda, o rancho continha os produtos básicos.
– Azeite, arroz, feijão, massa, açúcar, sal, queijo, salame... – recordou Elite, atualmente morando em Porto Alegre com a irmã, dona Itália Gianella Baldisserotto, 92 anos.
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A matriarca Ermelinda
A forte ligação comunitária da família Gianella traduziu-se em várias frentes: na construção da igreja, na fundação do Grêmio Esportivo Gianella, nas festas da padroeira, na geração de milhares de empregos e no auxílio aos moradores mais carentes do chamado “Arrabalde de Santa Catarina”.
Boa parte dessa identificação centrava-se na figura da matriarca Ermelinda Viero Gianella. Tanto que quando “nona Ermelinda” faleceu, em 2 de julho de 1969, boa parte da cidade passou pelo velório, realizado no casarão da família, junto ao lanifício.
O neto José Carlos Tonolli, filho de Elite e Tarcísio Tonolli, tinha 14 anos na época e lembra bem do cenário.
– A casa lotou de gente, vinham amigos, funcionários, moradores do bairro, famílias, crianças, políticos, autoridades, empresários. Tiveram de reforçar a estrutura com estacas no porão, pois achavam que o chão ia ceder – recorda.
Tradição preservada
Desde 2013, a tradição Gianella está atrelada à grife de camisas, bolsas e carteiras Gianella & Mondadori. A loja, situada no shopping San Pelegrino, tem no comando Gabriel Gianella Mondadori e Eleonora Gianella, bisnetos de Matteo e Ermelinda.
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