Lebre, tamanduá, coruja, lontra, corvo, arara, jacaré, faisão, tartaruga, raposa, cobra d'água, marreco selvagem, ovo de avestruz, crânio de macaco. Parece lista de algum zoológico, mas trata-se da relação dos animais existentes no Museu Municipal de Caxias do Sul à época de sua inauguração, em 1947, até meados dos anos 1960.
Empalhadas ou depositadas em frascos, as espécies estavam disponíveis à visitação pública no antigo prédio da Rua Dr. Montaury – no terreno onde desde 1983 situa-se a Casa da Cultura. Era lá que funcionavam também a Escola Superior de Belas Artes e a primeira sede da Biblioteca Pública Municipal Dr. Demétrio Niederauer.
Criado oficialmente pela administração pública em 3 de outubro de 1947, o Museu Municipal de Caxias do Sul surgiu como um depositário de todo e qualquer objeto antigo, de cachimbos, leques e machados de pedra a moedas, medalhas e cédulas fora de circulação.
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Raridades
Em meio a toda aquela mistureba inicial, porém, já figuravam peças raras que integram o acervo até hoje. Entre elas, os bustos de Pinheiro Machado e Júlio de Castilhos e a "Alegoria Primeira ao Imigrante", obra-prima entalhada em madeira pelo imigrante italiano Tarquinio Zambelli, fundador do lendário Atelier Zambelli. O painel foi encomendado pela Intendência Municipal por volta de 1890 e, seis décadas depois, decorou o estande de artes plásticas e memória da Festa da Uva de 1950, que celebrava os 75 anos da imigração italiana na região.
Mas a curiosidade recaía mesmo sobre a fauna empalhada. Boa parte dos bichos advinha de escolas – em especial do Colégio Nossa Senhora do Carmo –, que mantinham em seus currículos a disciplina de História Natural, daí a tamanha diversidade.
Posteriormente, os animais foram sendo subtraídos do acervo. Alguns foram doados ao CTG Rincão da Lealdade, outros, eliminados devido ao cheiro e às más condições.
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De frente para a praça
A imagem abaixo, datada de 1948 e captada a partir do terraço do Eberle, mostra os arredores da então Praça Ruy Barbosa, com o prédio do Museu à esquerda, ao fundo, na Rua Dr. Montaury. Ele fazia vizinhança com o antigo Banco Nacional do Comércio, na esquina com a Júlio (atual Edifício Solaris).
Na sequência, o sobrado em meados dos anos 1950, já fazendo vizinhança com o novíssimo prédio próprio do Banco do Brasil, na esquina da Dr. Montaury com a Sinimbu (ao fundo).
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Alguns itens de 1947
:: Mandíbula de peixe
:: Laringe de boi
:: Cheques alemães
:: Prato de areia
:: Panela feita pelos índios
:: Arco e flecha
:: Crânio de porco do mato
:: Estojo de geologia
:: Estojo de minérios
:: Ninho de joão-de-barro
:: Moringa
:: Bala de canhão
:: Crânio de anta
Novo espaço em 1975
O museu funcionou precariamente de frente para a então Praça Ruy Barbosa até 1967. Conforme os documentos oficiais mantidos pela instituição, "teve suas atividades suspensas quando da demolição daquele espaço por motivos de reurbanização", o que ocorreu em meados dos anos 1970. A partir daí, o acervo existente foi entregue à guarda de vários organismos culturais e à própria administração pública, até a reinauguração, em 1975.
Pegando carona na Festa da Uva que celebrava os 100 anos de imigração italiana, o novo Museu Municipal passou a ocupar a antiga sede da prefeitura, na Rua Visconde de Pelotas, quando esta foi transferida para a Rua Alfredo Chaves. A inauguração deu-se em 2 de março de 1975, seguida pela criação, em 5 de junho, da Pinacoteca Aldo Locatelli – embrião do atual Acervo Municipal de Artes Plásticas (Amarp).
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