Mais do que uma herança cultural trazida pelos imigrantes italianos que povoaram a região, o bordado é também o registro de uma época. Uma época na qual as meninas aprendiam com as mães, e também na sala de aula, a traçar seus sonhos com agulha e linhas coloridas, em panos que depois enfeitavam as paredes das casas.
Tirados de seu anonimato nos baús das "nonas" de Antônio Prado, esses panos já viraram pesquisa acadêmica, dois livros, e agora chegam à Galeria Municipal de Arte Gerd Bornheim, em Caxias do Sul, na exposição Bordando Sonhos, que abre nesta quinta-feira, com curadoria de Neusa Maria Roveda Stimamiglio.
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— Quando fiz minha dissertação de mestrado, trabalhei com as lembranças de infância, e soube que antigamente muitas meninas iniciavam o bordado do enxoval ainda na escola. Era um fazer de todas as mulheres — relata Neusa.
Encantada com os panos de parede desde a infância, quando os via nas paredes de sua própria casa, a psicopedagoga fez deles tema de pesquisa, iniciada ainda em 2005. Seguiram-se duas publicações, e é da primeira, Bordando Sonhos I, que saiu o material para esta exposição, uma síntese de um longo processo. Nela, são contadas as histórias de 18 bordadeiras, por meio de seus panos originais e de quadros que elas bordaram a pedido da curadora, reconstituindo uma cena, uma narrativa de quando elas bordavam.
— Os bordados são marcos de subjetividade e identidade — diz a pesquisadora.
As peças representam, também, uma mostra dos determinantes do comportamento que as mulheres, décadas atrás, deviam ter — tanto que parte dos dizeres traçados com linhas se refere a isso, com frases como "trate o marido como um hóspede". Outras frases têm a ver com outra característica forte na região, a religiosidade.
— Quando conversei com essas mulheres, percebi que elas não davam importância às suas histórias, achavam que elas não interessariam a ninguém. Isso já é um dado do condicionamento do comportamento das mulheres — destaca Neusa, salientando que os fazeres e saberes delas são tão essenciais para a preservação do patrimônio cultural quanto, por exemplo, a arquitetura.
- A mostra Bordando Sonhos, que abre o calendário de exposições deste ano da Galeria de Arte Gerd Bornheim, terá continuidade em 2019. A ideia, adianta Neusa, é apresentar os trabalhos da Bordando Sonhos II durante a próxima Festa da Uva, quando ela também lançará seu novo livro, com histórias da tradição oral colhidas dessas mesmas bordadeiras.
— Quem fazia trabalho artesanal também era um contador de histórias — define.
Agende-se
:: O quê: exposição Bordando Sonhos, com curadoria de Neusa Maria Roveda Stimamiglio.
:: Quando: abertura nesta quinta-feira, às 20h; visitação até 24 de fevereiro, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, e aos sábados, das 10h às 16h.
:: Onde: na Galeria de Arte Gerd Bornheim, na Casa da Cultura (Rua Dr. Montaury, 1.333).
:: Quanto: entrada franca.