A imigração italiana trouxe notável desenvolvimento para o Brasil. O projeto do Governo Imperial em promover a colonização no Rio Grande do Sul resultou num êxito industrial que fortaleceu a economia em vários segmentos. Entre os protagonistas dos inúmeros empreendimentos, evidencia-se o agrimensor Manoel Peterlongo. Estabelecido na Colônia Conde D’Eu, por volta de 1878, para demarcar terras, o italiano não se abateu ao encontrar uma realidade em processo de formação.
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Na bagagem, Manoel trouxe uma consciência europeia e a receita para elaborar o delicioso champagne. O método dessa bebida nobre inspirou Peterlongo a constituir uma vinícola, cujo projeto se consolidou ao longo do tempo. Enfrentando inúmeras adversidades para produzir, Manoel Peterlongo persistiu num sonho introduzindo castas nobres de uvas para elaborar seu espumante. Hoje, a história do espumante Peterlongo representa um patrimônio do município de Garibaldi e uma das marcas emblemáticas da produção brasileira.
Em 1915, com o auxílio do filho caçula de Manoel, Armando Peterlongo, a vinícola expandiu uma produção que obedecia rigorosamente o critério de Perignon. A fermentação natural na própria garrafa, que originava o gás natural, era um dos diferenciais. O minucioso trabalho de posicionar as garrafas com gargalo para baixo para retirar as impurezas pela rolha, e os movimentos rotativos necessários, posicionou com sucesso a qualidade do espumante de Peterlongo no mercado.
Numa publicação veiculada no jornal Pioneiro em 4 de novembro de 1950, a Peterlongo homenageou o abade Pierre Perignon, monge que realizou primeiras as experiências na França, estabelecendo os princípios que regem a fórmula da bebida, no distante ano de 1668. O original dessa peça publicitária está exposto na sala de degustação da Peterlongo.
Templo do espumante natural
Manoel Peterlongo é reconhecido pelo Memorial da vinícola. O local expõe peças e equipamentos utilizados nos primórdios. Os visitantes podem interagir com elementos históricos que envolvem fotografias, rótulos de vinhos, conhaques e espumantes produzidos em épocas diferentes.
Na década de 1940, a Peterlongo exportava para os Estados Unidos, conferindo alta qualidade e padrão de seus produtos.
Na imagem, percebe-se o suntuoso prédio da vinícola. O projeto foi assinado pelo arquiteto italiano Silvio Toigo. Armando, inspirado pelo pai, conservou o bom gosto e a tradição, investindo numa cave subterrânea, ambiente ideal para realizar o processo que exigia três anos para a fermentação plena do espumante.
O comprometimento de Armando Peterlongo
O fascínio em elaborar uma bebida nobre, a qual Manoel Peterlongo já saboreava na Itália, foi mantido pelo filho Armando Peterlongo. Aluno do colégio Marista e formado em Farmácia, Armando inovou e ampliou a produção do espumante natural.
O comprometimento com o setor vinícola foi também uma das lutas defendidas por Armando. Na Festa da Uva de 1933, por ocasião do II Congresso Brasileiro de Viticultura e Enologia, presidido por Celeste Gobbato, Armando participou das plenárias e mostrou os desafios em produzir espumantes por um processo no qual a gaseificação acontece em processo lento e natural.
Armando relatou as dificuldades tributárias sobre as garrafas importadas e a inexistência de uma indústria capacitada para atender a evolução dos espumantes. O produtor também contestou a igualdade dos tributos para o espumante natural e de gaseificação artificial. Peterlongo abriu mercados dentro de um contexto na época ainda desorganizado.