Um detalhe arquitetônico quase imperceptível por vezes impulsiona a retomada de uma história secular. Foi o que ocorreu a partir de uma recente observação do historiador Juventino Dal Bó sobre o antigo – e maltratado – casarão da família Parolini, localizado na Av. Júlio de Castilhos, 1.983, entre as ruas Visconde de Pelotas e Dr. Montaury.
Conforme Dal Bó, as sílabas "LINI", na grade de ferro original da varanda (detalhes abaixo), são os resquícios da inscrição Germano Parolini – negociante, membro da Junta Municipal entre 1890 e 1891 e primeiro proprietário do imóvel.
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O proprietário
Imigrante italiano natural da região do Tirol, Germano Parolini foi casado com Emília Parolini, com quem teve duas filhas, Inês e Adele. Segundo registros de 1918, o comerciante possuía três sobrados "de material" na Av. Júlio de Castilhos, que acabaram sendo herdados pelos descendentes – a residência em questão foi, posteriormente, a moradia do neto Emílio Parolini Pezzi.
Na imagem abaixo vemos o casarão dos Parolini em finais da década de 1920, quando o térreo abrigava a casa de comércio da família. Na lateral, a placa com o nome dos proprietários: Viúva Mansueto Pezzi e Filhos. E na grade da sacada, a inscrição completa: Germano Parolini.
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As primeiras casas de alvenaria
Erguido nos primórdios do século 20, o sobrado de Germano Parolini teria sido uma das três primeiras casas de alvenaria da cidade, então dominada por moradias em madeira.
Segundo Marcos Fernando Kirst, autor do livro Ecos do Passado, os tijolos saíram da primeira olaria instalada em Caxias. A fábrica começou a ser montada pelo imigrante italiano Felix Laner em finais de 1882, nos lotes urbanos localizados na Rua Vinte de Setembro, entre a Marquês do Herval e a Borges de Medeiros.
Já a inauguração deu-se em 1883, com instalações e equipamentos bastante modernos para a época: um forno para cozimento do barro aberto por cima e um barracão para a secagem e armazenamento dos tijolos. Além de estruturar a residência de Germano Parolini, as primeiras fornadas deram forma às casas do próprio Félix Laner e de Stefano Alberti.
A olaria funcionou até meados de 1909.
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Descaso com a fachada
Coberta durante anos pelas enormes placas publicitárias, a fachada histórica do casarão ressurgiu ano passado, com as lojas adequando-se à lei que regulamenta o tamanho dessas estruturas em prédios antigos.
O resultado não poderia ser outro: visíveis sinais de descaso e falta de conservação dos proprietários e atuais locatários. Aberturas revestidas com tijolos, detalhes suprimidos, grade da varanda original serrada ao meio, pintura descascada e fiação exposta transformaram um dos mais belos casarões do trecho em um exemplo... a não ser seguido.
Parceria
Informações e fotos desta coluna são uma colaboração do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, do escritor e jornalista Marcos Fernando Kirst e do historiador Juventino Dal Bó.
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