Quem passa apressado nem repara. Para muitos, elas são quase imperceptíveis, vide as camadas de sujeira e as marcas do tempo sobre o basalto. Mas elas estão lá. Falamos das uvas e folhas de parreira que decoram o passeio e as alamedas da Praça Dante Alighieri desde meados da década de 1940, época em que o prefeito Dante Marcucci (gestão 1935-1947) elencou como prioridade concluir o ponto mais importante da área central.
Após entregar a reforma da praça, o chafariz e os pavilhões para a Festa da Uva de 1937, Marcucci e o secretário de obras José Ariodante Mattana começaram a pensar no calçamento dos caminhos internos. Conforme informações contidas no boletim Memória, publicado pelo Museu e Arquivo Histórico Municipal em 1992, um desenhista de nome Pedro Kerber, auxiliar do arquiteto austríaco que projetou os estandes da festa de 1937, teria esboçado para Mattana, muito sigilosamente em um pequeno talãozinho, um cacho de uva e uma folha de parreira – o bastante para que o secretário de obras começasse a desenvolver o projeto.
Confira um vídeo com imagens raras da Praça Dante em 1957
A tarefa era minuciosa: a cidade não conhecia o calçamento em estilo português, muito menos um profissional capacitado no ofício. Foi quando, durante os trabalhos de pavimentação da Av. Júlio de Castilhos, Mattana tomou contato com José Barbosa de Oliveira, um assentador de pedras portuguesas que atuava nas obras do centro. Natural da cidade do Porto, em Portugal, Barbosa teve uma breve passagem por Pelotas e, quando chegou a Caxias, acabou ficando conhecido pelo carinhoso apelido de... "Pelotas".
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Detalhista e bastante dedicado, seu "Pelotas" deu início aos trabalhos na praça em 1943. A "menina dos olhos" do prefeito Dante Marcucci logo estaria devidamente calçada. Mas não sem antes esbarrar em outro percalço...
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Um problema chamado basalto vermelho
Onde encontrar basalto na cor vermelha? Essa era a pergunta que tirava o sono da equipe de obras. Conforme informações do Boletim Memória, do Arquivo Histórico Municipal, na região eram abundantes apenas o preto e o acinzentado.
Entre muitos contatos, a prefeitura acabou chegando ao senhor Amadeu Balbinotti. Morador de Vila Seca, então distrito de São Francisco de Paula, Balbinotti informava que uma pedreira próxima à sua casa tinha o que Caxias procurava.
Após negociações, o basalto vermelho finalmente chegou, ficando a cargo dos melhores assentadores de paralelepípedos da cidade:
"Luiz Spiandorello, com extrema exatidão, determinava o nível para, finalmente, pedras vermelhas e pretas, cortadas em tamanhos pequenos, darem forma a folhas e cachos de uva", destacava o Boletim Memória em 1992.
O restante de toda essa história está sob nossos pés...
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Informações desta coluna foram reproduzidas do Boletim Memória, editado em 1992 pela equipe de pesquisadores do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
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