Em fase de demolição, o sobrado que abrigou pontos de entretenimento noturno que marcaram época na cidade, como o Revival Rock Bar e o Vagão Bar, parece traduzir à perfeição o trecho daquela antiga música de Vinícius e Toquinho: "era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada" – como alguns internautas e frequentadores se referiram aos escombros da fachada (foto acima).
De fato, o casarão da Av. Júlio, 1.343, entre as ruas Alfredo Chaves e Do Guia Lopes, era um dos sobreviventes do trecho, mas recentemente teve seu alvará de demolição aprovado pela prefeitura – embora o laudo do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural tenha recomendado a preservação e o tombamento.
Originalmente de propriedade da família de Arthur Rech, o casarão foi erguido em 1933 pelo construtor Luiz Bertola, que se valeu de uma fachada superior ricamente elaborada: um balcão (varanda) adornado por um conjunto de balaústres de concreto, portas e janelas de madeira com caixilharia geometrizada e elementos em alto-relevo, coroados por uma espécie de capitel – detalhes de uma Caxias antiga que aos poucos se vai.
No mesmo trecho da Júlio, por exemplo, ainda encontram-se outros ícones arquitetônicos da cidade, como o Edifício Pompéia, datado dos anos 1940 e o primeiro prédio com elevador de Caxias (na esquina com a Alfredo Chaves); um sobrado de 1927 e outro dos anos 1930; além de um típico exemplar em madeira da colonização italiana da primeira metade do século passado, localizado na esquina com a Guia Lopes.
Ironicamente, nenhum deles é tombado pelo Patrimônio Histórico.
Um trecho da Júlio de Castilhos recheado de detalhes
Portas fechadas
O Vagão Bar fechou as portas em agosto do ano passado, justificando problemas de infraestrutura, como infiltrações de água e telhado comprometido. À época, os proprietários alegaram falta de diálogo com os donos do imóvel para encaminhar as reformas necessárias.
Família Guidali: um casarão no bairro São Pelegrino
Na Rua Tronca
Na Rua Tronca, a icônica propriedade em estilo neo-colonial da família Sartori, demolida ainda em 2014, hoje não passa de um terreno baldio. Há meses com uma faixa de aluga-se no portão, traduz uma realidade cada vez mais visível na área central: terrenos de antigas construções à espera de ocupação.
À época, o Compahc também aconselhou pelo tombamento e preservação da casa, mas a prefeitura autorizou a demolição.
Memória e preservação: um longo caminho
O processo de tombamento
O tombamento de um bem imóvel pode se solicitado por qualquer cidadão, de entidade pública ou privada. O pedido dever atender aos critérios de salvaguarda estabelecidos pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural (Compahc), a quem é submetido para análise e apreciação.
A decisão é comunicada por meio de uma resolução interna e acompanha o processo, posteriormente encaminhado ao prefeito municipal, que pode acatar ou não o que o Compahc sugere.
A saber: o Compahc é um órgão de "aconselhamento" de ações e políticas públicas. Entre seus conselheiros estão representantes da prefeitura e da sociedade civil.