Não lembro há quanto tempo eu não tirava férias para não fazer absolutamente nada. Normalmente eu viajo e, assim, não paro quieta, não durmo até tarde e não saio da rotina, mesmo que ela seja mais lúdica.
Senti que precisava de um tempo para organizar a casa e, consequentemente, a mente. E foi incrível poder administrar meu tempo, sem ter que dividi-lo com todas as obrigações da vida adulta, sem fazer concessões. Quase uma utopia, não?
Massagem às 10 da manhã? Posso! Café com amigo às três da tarde? Tô dentro! Passar a tarde lendo no sol que deliciosamente entra pela sacada? Sim, por favor! Jantar com amigos em dia de semana e beber vinho até as duas da manhã? Perfeito! Tomar café depois do almoço sem a mínima pressa? Quero fazer isso sempre!
No começo, fiquei surpresa em como todos os espaços estão cheios de vida em todos os horários — e percebi os perigos de viver numa bolha, da correria e dos horários superdisputados, por mais que tente fugir dela...
Outra breve constatação foi ver a quantidade de tralhas que acumulei ao longo do tempo, ainda mais sem parar para pensar nisso, meio no piloto automático.
Me mudei para o apartamento onde vivo há três anos, então tudo ainda é novo e bem cuidado. Mesmo assim, precisei do tempo livre para resolver pequenos perrengues que não tenho agenda ou disposição em dias normais: ralo entupido, gavetas cheias de inutilidades, papéis desnecessários, roupas demais, maquiagens que não uso, plantas que secaram...
Pouco a pouco fui enchendo sacos e sacolas e me desfazendo de itens que sequer sabia ter. Troquei quadros de lugar, desembalei objetos, guardei outros que pareciam não fazer mais tanto sentido nos ambientes, numa intenção de dar fluidez à energia do momento. Lavei muita roupa. E foi incrível perceber o poder do tempo. A preciosidade de poder aproveitá-lo, fazer escolhas e não apenas passar por ele, desfrutar o valor do agora.
Mais uma percepção, quase metafórica, é sobre como é possível acumular coisas inúteis se a gente não parar para olhar o que dá sentido aos dias. Às vezes, é bem mais fácil colocar um papel dentro da gaveta em vez de lê-lo e pensar se precisa mesmo ficar ali. A gente não faz isso o tempo todo com sentimentos, percepções, tarefas e pessoas? Não seria melhor dar a cada coisa o lugar que merece? Fora, dentro, perto ou longe, evocando a leveza da alma. Delícia.
E, se não pudesse ficar ainda melhor, aproveitei o ócio, inclusive, para planejar as próximas férias de setembro. Sei que elas não vão ser de descanso como essa, mas já estou amando. Acho que é porque isso me aproxima de uma das coisas do que mais gosto de fazer: voar as tranças por aí e, depois, poder voltar e ver que está tudo no lugar onde deveria estar — eu, inclusive.