Eu tenho valor. E é muito bom poder dizer isso.
Assim começa um vídeo que muitas amigas compartilharam no Instagram ao longo da semana. Ele traz a atriz Kate Winslet, 46 anos, falando sobre a importância de se aceitar e mostrar como se é de verdade, apesar de ser promovido por uma marca de cosméticos. À medida em que fala, prende o cabelo arrumado e vai tirando a maquiagem, virando uma “mulher real”, com marcas e imperfeições.
Um dos argumentos iniciais usados por ela no vídeo é que a beleza pode ser percebida como um superpoder — o que não deixa de ser verdadeiro e assustador. Kate tenta ensinar, então, qualquer mulher a se sentir valiosa de cara lavada.
Tenho pensado bastante sobre isso, em como a autoaceitação está longe de ser um processo simples (nem sei se ele termina) e, mais do que isso, em como essa aceitação costuma passar pelo olhar alheio. Quem nunca precisou tentar convencer alguém que fazia as unhas semanalmente só para se sentir bonita, não para ficar bonita para outra pessoa?
Costumamos submeter nossas ideias, escolhas e até nossa aparência à aprovação dos outros. Por isso, tanto filtro, tanta maquiagem... Como se encontrar nossa melhor versão passasse por isso. A solução nunca está do lado de fora.
Mas desfazer esse estigma é mais complexo do que parece. Voltando às redes, qualquer pessoa que está nelas já deve ter visto mulheres incríveis respondendo a desafios do tipo “dizem que é feio mulher”:
Bebendo
Maquiada
Grávida
Etc.
A resposta feminina vem com fotos que reafirmam o que é criticado: alguém grávida e linda dizendo “eu sendo horrorosa”. É uma brincadeira, eu sei, mas traz esse componente de precisar provar o próprio valor — por meio das atitudes mais estapafúrdias.
Em tempo: não vi nenhum homem fazer nada parecido — isso também é simbólico —, mas refuto qualquer generalização binária ou polêmica gratuita. Esses dias, aliás, estava conversando com minha prima na volta para casa, de Uber, e o motorista interrompeu o próprio silêncio para se meter na nossa conversa. A gente estava falando “ah, mas ele só agiu como homem” e ele retrucou: “vocês não podem fazer isso. Nem todo homem é assim”.
Foi curioso ver que ele se importou com a nossa percepção, embora as opiniões alheias não sirvam para muita coisa se não soubermos que temos valor.