O Brasil não é um país para amadores, já disse lá atrás Nelson Rodrigues. Agora, a campanha política não é feita só de comícios, bandeiraços, debates e relações. Agora, ela vai num infinito além e chega em lugares selvagens, onde encontramos likes e cadeiradas.
Para quem não está entendendo, explico: o cenário é o pleito à prefeitura da cidade de São Paulo, uma das maiores e mais influentes da América Latina. Estão concorrendo Gaviões como Boulos, Tábata Amaral, Datena e (pasmem) Pablo Marçal, o coach dos coaches, aquele cara que enfrenta tubarões e ressuscita aeronaves. Pois bem, Datena tá acostumado com sangue por ibope e Marçal faz tudo por engajamento, não daria bom. É, não deu!
Em busca do voto válido engajado via redes sociais a partir de cortes impactantes, Marçal afrontou, criou fake news, desafiou a dignidade e história de todos os adversários. Por fim, exauriu a saúde mental de quem ali, no pleito, estava. Levantou falso testemunho, como bom crente, pecou contra Deus e a igreja para os fins que lhe eram necessários. Cada debate era o fim do mundo instaurado, já prometido.
Num dia comum na vida de um candidato às eleições municipais, veio a cena: Marçal discursava com tranquilidade e ofensas baixas dirigidas ao apresentador das massas adoecidas, que faz nossos belos televisores pingarem sangue e, do nada, Datena não se conteve e arremessou-lhe uma cadeira.
Não sei o que pensar sobre o ato, sou contra violência — sobretudo a política. Não sei como lidar com o cotidiano disso, visto que acho que Pablo Marçal não tem a mínima capacidade de gerir suas palavras, quiçá São Paulo. Não sei como conter o riso depois que o povo da internet criou mil cenários de possíveis cadeiradas.
Dito isto, te pergunto: em quem você daria uma cadeirada? Bom, vou te dizer, eu daria uma cadeirada na pessoa que diz para eu trabalhar enquanto eles dormem. Nossa, eu daria até aquela segunda cadeirada que impediram o Datena de dar — sou mais jovem e mais ligeira que ele.
Eu daria uma cadeirada em quem prega modus operandi para ser mãe, sendo que cada criança é única e cada relação mãe-filho é exclusiva. Eu lançaria uma cadeira com violência em quem cogita as regras, mas não vê a vida real. E, sobretudo, eu acertaria em cheio uma cadeirada em quem nos vê como número e renega a humanidade com suas profundidades e possibilidades cotidianas.
Aparentemente, tenho muitas cadeiradas guardadas, e, eu acertaria cada uma delas, não duvido do meu potencial. Inclusive tenho uma cadeira para Marçal e nem é pelo conteúdo dos debates, apesar de achá-lo, ali, deprimente e apelão. Ele receberia de mim uma cadeirada por ter me feito saber quem ele é pelo feed obrigatório do Instagram, por suas histórias descabidas, por sua cara de pau e, também, por seu ego — que invejo.
Eu daria uma cadeirada em Pablo Marçal e numa pá de gente, mas não defendo a violência, pois ela é a força maior do sujeito sem argumentos e inteligência emocional. Eu queria, mas não devo, não faria, sou gente — tratada em terapia.