Na TV, na internet, no trabalho, nas rodas de amigos. Não se fala de outra coisa no Brasil nas últimas semanas: a prisão da Dra. Deolane Bezerra, advogada e influenciadora digital. As acusações são muitas, mas todas elas caem num lugar comum que é o uso da própria fama para ludibriar e enganar milhões de pessoas por meio de plataformas online de jogos de azar.
Ela, uma autodenominada doutora, ficou conhecida após a morte de seu companheiro, o MC Kevin, um funkeiro aclamado no morro e na pista. A vida de Deolane é um tanto confusa e cheia de nuances de história de superação e riquezas vitrinadas pelas grifes mais caras do mundo.
Como comunicadora, atribuo sua fama quase espontânea ao seu jeito natural de ser e agir. Ela é bem brasileira. De fato, uma mulher interessante, audaz, de voz poderosa e que esbanja autonomia por onde passa. Digam o que quiserem, mas ela é uma representante nítida da criatura que inspira.
No entanto, inspirar quer dizer o quê em tempos fluídos como os que vivemos? Penso que o brasileiro médio está carente de ídolos e a internet tem sabido usar isso muito bem. Seja lá qual vida você leve, sempre haverá um influenciador que poderá ser usado como espelho.
Mas, daí, o problema: o endeusamento dessas celebridades. Quando botamos alguém num altar ficamos cegos. Quando alguém vence na vida financeiramente e veio de um lugar próximo, a sensação de que o nosso dia chegará fica no horizonte. Olhamos pra lá e remamos, esperando a chegada.
E dá pra chegar, eu acredito, só que o caminho é árido, labutoso e longo. Nem um Tigrinho vai nos conduzir até. Pelo contrário, tigres são animais sagazes, de treinamento natural para a sobrevivência. Fiz essa analogia bem óbvia do animal com os cassinos (on ou off line) para que esteja dito e bem dito, a banca sempre vence. Mas, nós, povo, dentro da nossa carência de totens, fomos lançados ao abismo da fé vazia da vida melhor que virá pela voz do outro junto à naturalização de absurdos como as Bets.
Não é raro ouvir: Fulana perdeu tudo no Tigrinho; O casamento de Sicrano acabou pois ele jogou até o dinheiro da feira; Beltrana Sicrana gasta tudo o que tem com maquiagens e roupas caras… Tantas histórias, tanta gente. E, no meio, os influenciadores fazem a mea culpa de que só divulgam e a população precisa de discernimento para jogar, para investir, para comprar.
Esta atitude é tão vil e covarde que merece alta punição, pois para além da lavagem de dinheiro e muito antes dela, vejo é lavagem cerebral. Essas pessoas se aproveitam da cegueira social e da carência múltipla do povo para faturar milhões há anos e agora isso tem ficado muito nítido. Vai faltar presídio para tanto influenciador caso comecem, de fato, a revirar este baú.
É isso, “de quem valem essas Gucci, de que valem essas Pradas, se eu não tenho…”. Não tem liberdade, né, Dra. Deolane?