2024 tem sido um marco lindo e caótico na vida dessa Sandra de quase 38 anos. Comecei o ano estando de férias. Sim, férias! Eu nem sabia o que era isso há quase uma década. Viajar, conhecer novos lugares e ficar ociosa me revirou inteira. Eu, capricorniana de pai e mãe, não entendia com maturidade a importância de nada fazer. Sempre me vi em atividade pessoal, profissional e até emocional.
Enfim, passei a vida a ser uma trabalhadora patológica; nada do que vivia fugia do espectro função. Existia dentro de um esgotamento profundo e, confesso, tinha certo prazer em gritar isso por aí. Levantava a bandeira da mulher-mãe-trabalhadora-exausta na vida física e, naturalmente, na online. Postava sempre que podia meus momentos de atribulação e correria, inspirava mulheres redes sociais afora com minha dita vida de superação.
Retomando, eu estava em gloriosas férias: viajando pela Serra e pela praia; dormindo e acordando sem demandas; bebendo e comendo sem culpa; estava feliz e descansada. No início eram fotos, vídeos, likes, comentários e engajamento. Minhas redes sociais foram ao cúmice do ápice. Os dias foram passando e, em meio ao relaxamento e diversão, fui esquecendo de postar. Vivi tanto o off que esqueci do on.
O roteiro da viagem era de carro, então tive muito tempo para pensar. Numa estrada qualquer entre o Rio Grande do Sul e Goiás, me dei conta de que muito do meu cansaço vinha da expectativa que eu criara sobre mim a partir da visão do outro, e era na rede social que esse sentimento, quase sempre de frustração desaguava, se manifestava e se intensificava. Com coragem e incerteza, resolvi sair do universo do Instagram e maneirar a mão no WhatsApp — visto que esse último me era necessário profissionalmente.
Os primeiros dias foram de empolgação, não sentia falta, mas logo veio a estranheza do vazio social ocasionado pelo não estar digital. Como vestir uma bonita roupa e não postar? Como bater a meta da semana na academia e não postar? Como superar o dia de autoestima em baixa sem ganhar os “biscoitos” do afeto alheio?
Não foi fácil, no entanto, o tempo foi passando e tive que reaprender uma rotina não compartilhada, não postada, não engajada. Ao passo que a opinião do outro se afastava de mim, também ia longe a vida “perfeita” dos feeds que em dias ruins me jogavam num buraco existencial.
O mundo sem feed é lento e silencioso, eu nem sabia mais como a calma é poderosa, organiza o pensamento e faz dos dias muito mais produtivos. O tempo que me sobrou sem pensar na vida do outro, trouxe planos novos e estudos muito profundos. Entendi que minha carreira já não me fazia tão feliz no marketing e fui migrando passo por passo para as vendas, a gestão de gente e a busca por resultados palpáveis.
Trabalhando com comunicação há mais de 13 anos, sendo ativa nelas para criar estratégias de alcance de público e afins, eu nem sabia como era mais o mundo sem algoritmos, mas reaprendi. E, como uma criança que dá seus primeiros passos, fui caminhando titubeante sem parar, até ter a segurança que aquele vício estava superado e eu poderia voltar sem afetação à minha vida.
Então, após nove meses longe do Instagram, reativei o perfil e estou bem, consigo não depender de seu conteúdo para me sentir feliz ou sacrificar meu rico tempo em prol de suas efemeridades.