Sou a mulher real do presente e venho trazer obviedades que, aparentemente, pouca gente sabe acerca da sexualidade feminina. Lá vai: mulheres gostam de sexo, sim. E gostam muito. Não precisamos necessariamente que isso seja envolto num manto rubro do amor verdadeiro, mas deve ser obrigatoriamente envolto na plenitude do consentimento.
Sexo casual pode nos interessar. Geralmente interessa, inclusive. Mas, pra isso, uma proposição honesta é justa. Não queremos que nossa decisão de ter prazer seja inundada pela imundície do julgamento do que uma mulher deve ou não fazer. A decisão do que fazer com nossos corpos só cabe a nós. E, a partir disso, não há mais o que ser questionado.
Sentimos falta de sexo, como qualquer criatura viva, humana ou não. O sangue em nossas veias também capilariza em nossas partes íntimas e zonas erógenas. Ardemos dentro dessa imensidão que é o prazer sexual, exatamente como um homem. Aceitar isso para nós é libertador, nos concede autonomia e é um grande diagnóstico de saúde física e mental.
Somos seres saudavelmente livres, mesmo que as convenções sociais ainda nos digam o contrário, colocando nossos desejos sexuais em uma caixinha da mulher para transar e da mulher para casar. À primeira é retirado de si o direito de ser respeitada como um ser social, parte de uma comunidade, à ela o desprezo e o uso de seu corpo de maneira suja, onde o prazer do outro é o que importa. À segunda, não muda muito.
Ambas classificações errôneas, tristes e ultrapassadas sobre as mulheres nos levam ao mesmo lugar: uma vida incompleta a ser vivida, onde a posse do prazer é de qualquer um, menos nosso.
Carregamos um fardo pesado demais nas costas e no meio de nossas pernas, um fardo de moralidade e dominação histórica de nossos corpos. Essa situação nos trouxe a um Século 21 onde grande parte de nós ainda não desfruta plenamente de seus prazeres.
Isso está mudando a passos de lesma, arrastados. No entanto, um pouco de evolução é sempre melhor que nenhuma. Ainda é comum ver mulheres de todas as idades que nunca sentiram a emoção assoladora de um orgasmo. Sim, muito comum. Entre as mais velhas, que viveram com seu prazer escravizado, e, também, as mais jovens, que por mais que tenham um infinito acesso a informações ainda carregam em seu DNA séculos e séculos de desaprovação ao próprio prazer.
Assumir e lutar por nosso prazer é um dos pontos que nos levará à plenitude do bem-viver. Não é e não será fácil, mas é um risco que precisamos correr. Vão nos julgar ferozmente, vão nos condenar ao tribunal-social-moral, nos expurgar. Em certos momentos teremos vontade de ceder e só aceitar aquele papel mínimo na novela de nossas vidas, a qual deveríamos ser as protagonistas. Ao final veremos que não dá pra passar a vida sem conhecer nossas múltiplas possibilidades de existência.
Por assumir nossa sexualidade não somos mais mulheres ou mais promíscuas, somos só mais humanas e não há nada mais sexy do que a humanidade dentro de cada um.