37 anos de sonho e de sangue e de América do Sul, acredita, Belchior? É, amigo, os quarenta me acenam de perto e o que mais percebo é meu amadorismo nos assuntos que se abeiram do amor. Eu sou tão amadora em amar que sou quase profissional. É engraçado até.
Passo o tempo que faço sobrar da minha rotina de mulher-mãe-trabalhadora a refletir sobre amores. Os meus, os seus. Os idos e os que hão de vir. Os tristes, os baratos, os catastróficos e, sobretudo, os inesquecíveis.
Gente da minha idade, geralmente, já passou por todos esses estágios de amor. Bom, pelo menos eu já. Passei e estou bem. Bem em dia com a terapia, bem cicatrizada as feridas, bem curada e pouco descrente.
Fico pensando, vale a pena continuar acreditando no amor depois de sabermos tanto sobre ele? Eu, que sou íntima do amor, conheço bem seus lados, seus mil caracteres, seus tropeços e suas delícias, te respondo: não vale a pena, mas isso não muda o fato de que independentemente do que foi, o amor seguirá sendo.
Com isso quero dizer que, na balança da vida, as delícias do amar são bigornas, os sofreres são plumas. Tem sentido racional essa afirmação? Naturalmente, não. Mas nós temos ciência de que é assim que funciona: sorrisos fazem lágrimas se dissiparem.
E, ansiando por um punhado de sorriso honesto com gosto de sol que nos faça esquecer dos tortuosos dias de chuva de lágrimas, vamos adiante. Caminhando e amadurecendo, buscando mais dignidade e autovalorização, acreditando menos em contos de fadas e mais em crônicas do cotidiano.
Sabe, é pura balela de coach internet essa felicidade que se constrói na solidão profunda. Somos seres humanos, criaturas que nasceram para compartilhar a existência. A isso se deu o nome de evolução das espécies. Em suma, é na múltipla interação que se dá nossa evolução, daí é que nasce a tal melhor versão de nós que tanto buscamos.
Não venho aqui pregar a palavra do super-amor, tão menos a do amor-romântico. Eu disse logo ali da minha intimidade com o amor, e, creiam, nem sempre ele é um bom garoto. Geralmente, ele é um jovem adolescente afoito e ansioso que mete os pés pelas mãos e nos bota em toda sorte de azar. Cabe a nós orientá-lo.
Meu amigo Belchior, que morreu sem ter ideia da minha besta presença na terra, disse: nada é divino, nada é maravilhoso, nada é secreto, nada é misterioso, não. Sim, o amor e as outras formas de nos relacionarmos não fazem parte de um mundo para além de nós, é tudo coisa humana, real. O amor é coisa nossa, coisa que ri e chora e sara e sangra.
Há que se aperfeiçoar o amor, o modo de amar. Há que aperfeiçoar a forma com que concebemos o amor dentro de nós e sobre o outro. O amor existe e sempre existirá, não adianta fugir. Que tal evoluir?
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