Tem chovido muito ultimamente. E, quando não, o céu fica num cinza alheio à vida e meio que não liga para nossa vontade de alegria. Têm dias, mesmo que poucos, onde o sol toma tudo, aquece desmedidamente e ao invés de paz, traz agonia. É isso, vivemos tempos destemperados.
Anos atrás eu me considerava uma pessoa sazonal. Eu era quase um hortifruti reagindo às mudanças climáticas, só que humana, só que com um ciclo de vida um tanto mais complexo. Se eu acordasse num dia de sol, levava àquela sensação de calor dentro de mim. Caso chovesse, eu me inundava toda. Em dias nublados, apática, eu ia.
Observando hoje meu ontem, acho graça da criatura pueril que fui. Como pode alguém balizar o existir de acordo com a meteorologia? Naturalmente, essa não era a única coisa a me balizar. Uma enxurrada de referências fazia a base: local, amigos, modo de vida. Eu tinha fé, acho, que se eu fosse mais naturalista, teria mais motivação para enfrentar o cotidiano sôfrego.
Penso que era um jeito bobo de buscar essa tal motivação. Sim, motivação, essa palavra que sai sempre das bocas de coaches aleatórios na web. Considero até razoável a existência naquele meu antigo modo. Razoável, sim, mas só quando não se tem a orientação sobre quem se é.
Lewis Carrol, em Alice no País das Maravilhas, acertou no alvo, e o alvo era eu. De fato, para quem não sabe onde vai, qualquer caminho serve. Aquele caminho me serviu ali, depois nunca mais.
Ainda citando, Tim Maia cantou: me dê motivos. Na música, ele refletia sobre ir embora. E, eu só quero ficar. Ficar dentro de mim e nada mais. Vestir minha pele e seguir vivendo o que me foi entregue, honrando quem me deu história, construindo uma outra realidade para mim e para meu rebento, que conta comigo para ter a sua própria existência.
Em suma, motivação, para mim é isso. A força do que você é somada a sua coragem de assumir os erros cometidos pelo seu eu do passado. Unido a isso, a motivação se torna robusta com o reconhecimento das múltiplas e árduas vivências das gerações que nos trouxeram até aqui. Difícil não seguir quando se tem ciência dessa conta. É exata!
Eu poderia acrescentar aqui o afeto de quem nos ama e a nós dedica tempo e cuidado. Poderia, mas não vou. Não que eu não considere isso um ponto primordial de motivação, mas, estamos há séculos sendo orientados a existir pela existência do outro, sobretudo a parceria romântica. Sinto que já é hora de entendermos que querer o bem a quem quer que seja está ligada ao vetor das amenidades, não é crucial para que possamos existir.
Não estamos sozinhos no mundo, mas estamos sozinhos dentro de nós. E, essa solidão que nos habita, é o que possibilita a não desistência em dias em que levantar da cama é um verdadeiro suplício.