Não vejo medo maior no ser humano do que o de ser abandonado. Tenho para mim que isso vem de questões ancestrais ou, até mesmo, do nosso nascimento, d’onde fomos expulsos do ventre de nossas mães sem aviso prévio. Até as pessoas mais evoluídas, tratadas afinco na terapia, escondem lá no fundinho de si o medo da rejeição.
Já padeci desse mal, talvez ainda padeça, mas, hoje, no auge dos meus 36 anos vividos de forma pungente, consigo trazer à compreensão o racional das coisas e não sofro como antes. Não sofro pois sei que cada um de nós é uma grande perda: temos histórias admiráveis de superação, belezas únicas e talentos incríveis.
O jeito como você sorri ou mexe nos cabelos quando está encabulado, a forma gentil com que cumprimenta os garçons e porteiros, a intensidade com que você se entrega ao amor, como você se lança à vida avidamente, sua vontade legítima de acolher o mundo, seus medos que emergem em conversas triviais, sua sede por vitória conduzida de forma tão digna. Seja lá como você é, entenda que tudo é tão profundamente seu e isso é uma perda para o outro.
Sendo assim, ter alguém com as suas características ao lado é um presente e sua ausência deixa um buraco na existência de qualquer um que já conviveu contigo. Não estou aqui com a intenção de aplacar suas dores, só estou racionalizando emoções para que seja sabido que cada um de nós é um universo muitíssimo interessante, excelente para se habitar.
Eu sei, um amor se foi, dois ou três também, talvez. Doeu, estou ciente. Mas, olhe, você ainda está aí, desfrutando do respirar, das benevolências de existir nesse seu corpo perfeito, nessa sua alma tão confortável, nesse espírito forte mais forte que Hércules.
Sobre os amores que se foram, espero que você tenha deixado as lágrimas verterem como enxurradas, mas que agora tenha ciência de que o choro foi justo pois é duro enterrar ilusões. Ainda sobre esses amores, é importante uma pequena interpretação: pessoas são instantes, interesses mudam, prioridades idem. Você não deixou de ser o amor de alguém, você deixou de ser parte da construção de futuro que o outro vislumbra. Apenas!
Não ser parte dos planos do outro não é um problema, é comum, normal. Esquecer que seus planos não existem sem você, sim. É que você é uma grande perda para o outro, mas para si mesmo é gigantesca, irreparável.
Entenda que os dias que se vão, só vão. Não há ninguém que fará mais por nós do que nós mesmos. Nossas alegrias e dores só têm brilho ou obscuridade perante nossos olhos. Precisamos existir para sentir, para crescer, para seguir. Então, exista com vontade, foco e apesar de tudo.
Esteja certo de que outros amores virão, tão intensos quanto, mais gostosos até. Química surgirá de toques e você se sentirá flutuando enquanto caminha de mãos dadas com alguém num dia comum que será o mais especial de todos. Sim, outros amores virão e quem sabe um deles permaneça, pois você não é descartável e é uma imensa perda.
Você também é uma grande perda. Leia de novo. Esse é seu mantra a partir de hoje.