A pandemia instaurada há um ano, suprimindo em nossas vidas o cotidiano, o real, os pequenos e grandes prazeres. Confinados em casa, ou não, tudo é tão estranho, tão adoecedor. E, seguimos, adoecendo, em bandeira de luto, se agarrando a um fio de esperança qualquer que nos diga que vai passar.
Tenho notado que essa nuvem pesada de tempestade sobre nossas cabeças tem afetado, principalmente, as mulheres. A sobrecarga se intensificou, veio como um raio, atravessando nossos corpos, queimando tudo, nos deixando sem forças, estáticas.
Ser mulher, ser mãe, ser esposa, ser profissional tem se tornado impossível. Agora as crianças estão em casa, os maridos também e, até o trabalho. Tudo sob nosso teto, sob nossa tutela.
Digo nossa, pois sou PHD em autocobrança e me incluo debaixo desse guarda-chuva furado, onde tentamos nos proteger, mas acabamos totalmente encharcadas. Mas, é bom lembrar: ser mulher, hoje, é resultado do tempo, das mulheres que vieram antes de nós, com suas vitórias rumo à liberdade, à independência e, também, aos acúmulos de funções gerados por esses marcos.
Deixamos de estar em casa, somente. Fomos para o fronte do mercado de trabalho guerrear. Em meio à batalha com crianças no colo, com a pia cheia de louça, com relatórios para entregar, com a pressão estética nos massacrando.
Estamos em combate, tentando provar ao mundo que somos boas e damos conta de tudo. Tentando manter unhas feitas, depilação em dia, corpos malhados, crianças saudáveis, casa impecável, carreira promissora e um marido satisfeito sexualmente. Pesado, né?
Eu acho, e posso afirmar: não vamos ter vitória no final, no máximo teremos ansiedade e depressão. O que já é realidade, basta olhar para as mulheres ditas guerreiras que te cercam. basta olhar para si.
Quando olho dentro de mim, da minha realidade, sinto angústia. Passei a vida exigindo tanto de quem sou, era, ou queria ser. Adoeci mais vezes que consigo lembrar por querer dar conta de tudo. Almejava ser uma deusa, mas não sou, nunca fui. Sou - e você também é - uma mulher, apenas.
Uma mulher e só. E isso já é incrível. Não precisamos ser super-heroínas, precisamos ser felizes, com conquistas possíveis, com menos bagagens emocionais e frustrações diárias. Tudo bem não dar conta de tudo, ninguém dá.
Eu sei que quando olhamos para algumas mulheres, que são notórias socialmente, nos enxergamos pequeninas, incapazes, mas há uma realidade por trás delas que não vemos. Seja uma rede de apoio que o dinheiro pode pagar, sejam surtos e crises de choro que o feed do Instagram não mostra. Sempre há algo nada bonito na jornada de uma mulher que vence, mas isso precisa mudar.
Todas nós podemos ser vencedoras em múltiplas instâncias do que é vencer, mas não dentro de uma fórmula imposta. É muito mais fácil e prazeroso ser o melhor que conseguimos, entendendo a nossa própria vida. Somos perfeitas dentro de nossas imperfeições, não temos que provar nada para ninguém.