Eu sou mãe, igual tantas, quase todas. Estou criando gente, um ser humano complexo, cheio de sabedoria e, ao mesmo tempo, com tanto a aprender, como todos.
Tento criar a minha filha sem a arrogância de pensar que, por ela ser criança, não tem que ter suas opiniões levadas em consideração. Tento enxergar que, assim como eu, ela tem dias ruins, outros bem bons. Tento olhar para ela e analisar o contexto da pouca experiência de vida que ela possui, sendo assim é compreensível que ela não saiba como agir em inúmeras situações. Quando se tem tão pouca idade não há o que não seja novidade.
Coisas novas nem sempre são boas. Emoções inéditas são desconcertantes, mas quando se é uma criança, isso é desesperador. O que resta à criatura se não corresponder à sua humanidade e reagir?
Narro abaixo uma história que presenciei e se repete diariamente mundo afora:
Ele tinha uns cinco anos e acompanhava o pai nas compras do supermercado. Corria pelos corredores, sorria e brincava, lindo de ver. Eis que chegaram ao caixa e o pai sem lhe informar retirou do carrinho o que ele havia escolhido para levar para casa. Aquilo, em sua prematura mente, era dele.
Ao perceber, pediu, gritou, esperneou. Como assim? Ele não poderia aceitar tamanha injustiça, reagiu. Praquela criança a birra era o jeito de mostrar que estava frustrada, triste, decepcionada. Naturalmente, aquele menino não tinha preparo emocional e, até cerebral, para compreender que nem sempre podemos ter o que queremos. É preciso ensinar esse tipo de coisa. E, creiam, eles aprendem, mas é um processo.
Eu observava com a minha filha no colo aquela dramática cena sem julgar, sabendo que logo seria eu ali, no papel confuso e perturbado do pai. O pai tentou conversar, barganhar, mas foi ficando nervoso diante dos olhares das pessoas presentes. Esses olhares, sim, maldosos, carregados de julgamento, com a criança e com o pai. Enfim, em desespero o homem botou a criança no colo, apanhou as sacolas e saiu dali – fugindo.
A atitude dele foi correta. Como poderia acalmar uma criança num ambiente onde ela, no auge dos seus cinco anos, era considerada uma vilã?
Foi aí que olhei para a Pilar, pensando no menino, e só pude constatar como deve ser duro ser criança nesse mundo adulto. Fisicamente e emocionalmente imaturos não são os pequenos, somos nós que não contribuímos para que se desenvolvam de forma saudável.
Olhando o burburinho que se formou após a saída dos dois, só me ocorria que tantos ali, num momento de frustração, quebravam coisas, davam murros nas paredes, gritavam sem motivo. Se isso não é birra, nem sei o que é.
Mal notei quando uma mulher chegou até mim, olhando a minha bebê quietinha no meu colo, disse que assim era uma criança bem educada. Eu, de pronto, discordei. Ela deu as costas, nem quis me ouvir.
Tempos passados, sempre que vejo minha filha dando birra, tento acolher ou pelo menos dar o espaço que ela precisa para se acalmar. É que uma criança dando birra não é uma pessoa ruim, mas o adulto que a julga é.