Eu já quis um amor para vida inteira, agora quero um amor para todo dia.
Na infância lia contos de fadas onde o autor escrevia na última página do último capítulo, em caixa alta, sobre o casal principal: E VIVERAM FELIZES PARA SEMPRE. Mesmo não sendo eu, à época e nem hoje, uma pessoa, de fato, romântica, acabei crendo. Não sei bem se foi no FELIZES ou no PARA SEMPRE, mas acreditei, me iludi.
A adolescência chegou, trouxe uma enxurrada de comédias românticas onde a lição era sempre a mesma: suportar tudo, ser feliz depois. Eu já desconfiava que Hollywood estava me tirando de trouxa. Algumas vezes eu até fui, confesso.
Parecia simples ter alguém ao meu lado por amor e, que, esse amor duraria até o fim dos dias. Daí veio o mundo e me explicou que uma vida inteira é muito tempo. A explicação não foi gentil, nunca é.
Acabei entendendo a complexidade de ser gente. Ninguém é feliz o tempo todo, ou compreensivo, ou equilibrado, ou justo, ou, ou... Há algo dentro de nós que prioriza a autopreservação e esse algo, hora ou outra, vai se chocar com o mesmo sentimento do outro.
Acho necessário que aceitemos, de uma vez por todas, que não é fácil conviver consigo. Tem dias que eu não me suporto. Tem dias que tudo me atinge, até quando eu não sou o alvo. Há dias que eu sou a flecha, a arma engatilhada, a humanidade mais pungente, gritante, cruel. Tem dias em que tudo me dói. Como posso crer que o amor do outro por mim será eterno? Em certos dias, nem eu consigo me amar.
Não estou dizendo que não existe amor verdadeiro que dure 50, 60 anos. Digo que não podemos fingir que nesse compartilhar de anos não foi baseado em muita vontade de desistir, de seguir só.
Estar sozinho é infinitamente mais fácil, relacionar-se é osso, é carne de pescoço, como diria minha mãe, mas acima de tudo é uma escolha.
Quando se escolhe alguém para partilhar a cama, é bom que se tenha em mente que relacionamentos não respiram só entre lençóis. Tem ainda a casa toda e as mil formas de se manter ela de pé e as dores e os traumas de cada uma das partes envolvidas. Acima do casal há as vontades e necessidades dos indivíduos. Compreendendo isso, aceitando, principalmente, é que a possibilidade da vida conjunta duradoura começa a nascer.
Essa realidade demorou a nascer dentro de mim. Chegou há pouco, sendo sincera. Hoje vivo um relacionamento sério – sem rir, com uma filha pequena, sendo mulher, trabalhando horas a fio. Às vezes, mal dá tempo de tomar banho, mas eu olho para o lado e lá está ele me trazendo a toalha. Tivemos que aprender a viver separados para sabermos viver juntos. Tivemos que aceitar nossas próprias fraquezas para parar de julgar a do outro. E, acima de tudo, foi preciso que todo nosso amor próprio explodisse dentro de nós para que pudéssemos nos entregar ao amor. Foi uma construção lenta, ainda seguimos carregando tijolos.
Ele não é o amor da minha vida, ele é meu amor de todo dia, pois a cada acordar ele me dá a mão e não solta.