O jornalista Ciro Fabres colabora com a colunista Rosilene Pozza, titular deste espaço
No último debate antes da eleição, o então candidato Adiló Didomenico (PSDB) rebateu afirmação do oponente, o candidato Pepe Vargas (PT), de que seria uma continuidade da atual administração, comandada pelo prefeito Flávio Cassina (PTB). Adiló e Cassina eram colegas de partido, foram eleitos vereadores juntos para a atual legislatura pelo PTB, e Adiló só ingressou no PSDB na janela deste ano para viabilizar sua candidatura a prefeito, o que não era possível no PTB por injunções das executivas nacional e estadual. Mas o PTB permaneceu na coligação. No debate, Adiló jurou de pés juntos que não era uma continuidade, para tentar se afastar de eventuais desgastes do atual governo.
Pois bem, a polêmica foi desfeita com todas as letras pelo atual vice-prefeito, Elói Frizzo (PSB), em declaração ao Pioneiro sobre quando se dará o lançamento do edital de licitação para o transporte coletivo. Disse ele:
— Não sei (se o lançamento fica para o ano que vem). É uma discussão que o Cassina vai ter de fazer com o Adiló. Agora, como na prática o governo do Adiló não deixa de ser um prosseguimento da gestão do Cassina, não deve ser um problema.
Frizzo tem razão. Será uma continuidade, sim.
Mesmo campo
Nos últimos 16 anos, em 13 Caxias foi governada por um mesmo campo político que aglutinou uma gama variada e ampla de partidos em torno dos governos de José Ivo Sartori (MDB) e Alceu Barbosa Velho (PDT). Esse cenário só foi interrompido pelo Governo Daniel Guerra, mas voltou este ano, via impeachment. Com o Governo Adiló, serão 17 anos em 20 do mesmo campo político à frente da prefeitura.
Nesse tempo, houve deslocamentos internos da hegemonia: do MDB, com Sartori, depois do PDT, com Alceu, mas sempre abarcando representantes dos partidos amigos. E agora Adiló, levando a hegemonia para o eixo PSDB-PTB. Cada um com seu estilo e ênfases. Mas representam um mesmo campo político.
Acomodações
O prefeito Adiló também jura que não haverá loteamento de cargos em seu governo. Durante a campanha, fez a leitura, corretamente, aliás, de que a população não quer mais essa prática. Foi o recado transmitido com a eleição de Daniel Guerra em 2016.
Adiló vai cuidar de isso não transparecer. Mas levando-se em conta todo o quadro de CCs, os cargos em comissão do município, que se esparrama abaixo do primeiro escalão, haverá espaço para acomodações partidárias. Até mesmo por questões de afinidade política, pois essa afinidade existe mesmo.
Centro-direita
Que campo político é este que permanecerá na prefeitura? Durante a campanha, Adiló carimbou-se como um candidato de centro-direita, também de olho no perfil do eleitor caxiense. Ocorre que há um ruído programático. O PSDB representa a social-democracia. Na teoria, um movimento político de centro-esquerda, que advoga a tese do Estado de bem-estar social, para defender a justiça social dentro do sistema capitalista. Era para ser de centro-esquerda. No entanto, Adiló, um tucano novo no ninho, chamou para si e para o partido o perfil de centro-direita.