Trabalho há 12 anos escrevendo e palestrando majoritariamente para adolescentes e, honestamente, estou cansado. Não deles, os jovens, mas do fato de que a maioria das pessoas parece cansada deles — os jovens.
Notícia surpreendente (só que não): eu teria muito mais dinheiro se escrevesse para crianças. A literatura infantil é valorizada por diversos fatores relacionados ao desenvolvimento, estímulos e formação de valores essenciais nesta fase.
Basta observar: há uma infinidade de histórias em diferentes formatos e cores vibrantes. É raro encontrar um pai que negue a compra de um livro para seu filho, visto que o investimento vai muito além do monetário.
Quando somos adultos, governamos nossas próprias escolhas e, se chegamos nesta ou naquela idade como leitores, o desejo pela compra de um livro é facilitado porque não existe mais um intermediador — quem compra é quem também vai ler. E é justamente aqui que se mascara o problema: não existem leitores adultos se não houverem leitores adolescentes.
Deixando de lado a questão comportamental e temperamental própria da adolescência, o ato de um jovem desejar ler um livro nos tempos atuais deveria ser celebrado com mais emoção do que o gol de qualquer time. Mas... Quem incentiva um adolescente a ler?
Dentro da própria comunidade — entre escritores, bibliotecários, professores e outros envolvidos com a área — a literatura juvenil muitas vezes é marginalizada, considerada o patinho feio por ser o que é.
Certa vez, li uma resenha crítica que avaliava meu livro de romance com três estrelas, apenas porque a obra parecia “muito adolescente”. Ora, isso não foi nada além do óbvio: meu livro era, de fato, adolescente. Protagonizado e criado para essa faixa etária. Qual é o problema, então?
Se eu pegar um livro infantil agora, provavelmente acharia a história um tanto bobinha. A fábula da galinha que se escondeu e foi considerada desaparecida pode não me agregar em nada. No entanto, essa mesma premissa pode ajudar uma criança em fase de desenvolvimento a compreender seu lugar no mundo. Sendo assim, por que um livro protagonizado por adolescentes deveria ser algo além do que aquilo que os adolescentes vivem?
Se o amor é o maior problema do mundo para eles, ainda assim é um problema real. Todos nós já fomos adolescentes — e isso não faz de uma obra melhor ou pior. Ela é, como todas as outras, necessária.
Vejo concursos literários (dos quais me afastei há anos) agrupando obras de temas e públicos diversos, tudo no mesmo balaio. Assim, premia-se a “obra do ano”. Mas... O que é uma obra do ano? Para quem é uma obra do ano? E, principalmente: por que a “obra do ano” raramente (para não dizer nunca) é uma trama adolescente?
Desculpem o desabafo. Eu só queria entender a quem interessa o adolescente não-leitor que, no futuro, ou será um adulto que nunca pega um livro na mão, ou alguém que fará um esforço colossal para se tornar o leitor que deixou de ser quando criança — e que a sociedade fez questão de desfazer durante toda a sua adolescência.