Não sei dizer ao certo qual alinhamento planetário foi responsável por trazer tantas mudanças e entraves para o momento atual, mas tenho certeza que alguns planetas devem estar retrógrados (se não todos os corpos celestes). Pessoalmente falando, o universo parece estar fazendo muitas piadas que eu, frustrado que só, não consigo rir. Há quem diga que as marés mais abruptas tragam aprendizados – mesmo que num futuro longe do hoje –, e eu prefiro continuar assumindo ser cabeça dura e dizer que nunca aprendi a nadar.
Deixando de lado as vezes em que efetivamente surtei, todas aquelas onde eu quase surtei foram ensaios para atitudes colossais – e quiçá sem via de retorno – que certamente decretariam o fim de alguma coisa (se não de mim mesmo). Sempre que a gota caiu no copo e ele finalmente transbordou, minha vontade de fazer um estardalhaço só não pulou para fora do peito porque, veja só, vez que outra somos racionais.
Ainda.
Por enquanto.
Até quando?
Tudo aquilo que eu quis fazer, mas não fiz porque pensei melhor e vi que: a) poderia ser errado; b) talvez não pegasse bem; c) possivelmente me fecharia diversas portas; d) não era de bom tom; e) todas as respostas anteriores, engoli em seco. Nem mastiguei a decepção e/ou insatisfação porque o gosto da repulsa pode fazer repulsar. Conformar-se, então, com o que a vida nos apresenta sem bater de frente soa como sentir muita dor sem emitir nem mesmo um “ai”.
Tenho tentado inverter a lógica. Se toda ação gera uma reação, certamente algo vai surgir depois de receber uma notícia ruim, de não atingir o resultado esperado, de me magoar quando pensei que estaria sorrindo. Esse sentimento que inevitavelmente se apresenta após qualquer impacto geralmente é chamado de raiva e nos faz querer revidar. Oras, se os palavrões existem, por que é que vou mantê-los guardados dentro de mim?
Em horas assim, a Psicologia serve de muleta. Quando me dou conta de que essa ira toda que nos abraça quando algo sai do controle não é exatamente uma performance de nós mesmos, e sim o nosso ego que está se manifestando, recalculo a rota. E é deveras simples, sabe? O nosso ego, ferido, é quem se ofende e se sente rejeitado. Já a nossa essência, leve em um campo de racionalidade, entende que o que aconteceu era exatamente o que o outro podia nos dar.
Por aqui, vigora uma nova lei que ainda vacila, porém tenta marcar território e permanecer: quando estou com raiva, nenhuma decisão é tomada. E é assim que silencio o meu ego, ao dar o espaço de revolta-fúria-ira-ódio-rancor que ele precisa, pois sentir e viver a rejeição também é necessário quando ela existe. No comando, o ego é cruel e capaz de estragos irreversíveis. Entretanto, horas mais tarde, já mais calmo e sem o ego estar na linha de frente, reassumo a direção de mim mesmo e respiro aliviado: que bom que eu fiquei quieto.