Nunca fui muito fã de falar ao telefone. Quando era menor, vivi alguns traumas relacionados àquela voz de adolescência que vive uma transformação praticamente diária. Sendo assim, sempre optei pela escrita mesmo, além de achar muito mais prático. Pode me mandar um e-mail, pode até escrever uma carta e enviar pelo correio (alguém ainda faz isso?), mas, por favor, não me liga.
Talvez a melhor das invenções depois de Graham Bell dar vida ao telefone (para quem faz uso, no caso) tenha sido o áudio de WhatsApp. Na minha despretensiosa e humilde opinião, essa alternativa resolve a maioria dos problemas: você escuta e responde quando quer, além de não existir aquela pressão do contato ao vivo que reside em uma ligação. Não sei se essa é só uma reclamação minha – ou ainda uma frescura –, mas acredito que uma mensagem de áudio seja até uma opção mais respeitosa. Afinal, nunca sabemos o que o outro está fazendo quando decidimos pegar o telefone para ligar.
A minha reclamação pode estar atrelada a um outro desgosto: a escolha pelos caminhos mais demorados, quando se tem à disposição alguns atalhos. É o caso das reuniões, por exemplo, que acontecem exatamente quando temos uma pilha de tarefas a serem feitas. Depois do encontro, muitas são as vezes que pensamos que tudo poderia ter sido tratado em um rápido e-mail de três ou quatro linhas. É claro que nada se compara ao contato físico, ao olho no olho, porém é sempre melhor abreviar alguns assuntos quando eles não demandam tanto tempo.
Dias atrás eu contei uma dessas mentirinhas do bem que contamos por nós mesmos. Para o nosso bem. Após receber umas três chamadas seguidas e recusá-las mesmo podendo atendê-las, solicitei que a pessoa em questão me mandasse uma mensagem em áudio, com a desculpa de que eu estava impossibilitado de falar ao telefone. O resultado foi que os 30 segundos que recebi deram conta daquele assunto “tão urgente”. Simples assim.
Não sei ao certo dizer se é por comodismo ou costume, mas temos a tendência de optar pelo mais fácil – ou talvez mais óbvio. Existe um problema? Pega o telefone e resolve. Precisamos conversar mais a fundo? Vamos marcar uma reunião. Tem vezes que essas ideias me parecem um pouco obsoletas, por mais insensível que eu possa parecer. Já que não temos controle sobre a rotina do outro, que a gente ofereça a opção: aqui está o meu assunto, seja em voz ou seja em palavras, por favor responda quando puder. E, de preferência, ninguém liga pra ninguém. Obrigado.