Assisti um vídeo que viralizou na última semana onde uma mãe mostrava a sua indignação após um corte de cabelo feito no filho que não saiu como o esperado. Com cerca de 25 milhões de visualizações, o relato da porto alegrense indignada (prestes a fazer um boletim de ocorrências) dividiu opiniões na internet – e me fez refletir sobre a nossa atual relação com a exposição virtual.
Era para ter sido um corte de cabelo moderno, segundo a foto de referência que a mãe passou ao cabeleireiro. O resultado foi o oposto, e por mais que o vídeo diga que a criança não se gostou e se sentiu “feia”, é claro que a mãe mostrou o “antes e depois”. Até o momento, os mais de 50 mil comentários se dividem entre aqueles que realmente desvalidaram o trabalho do profissional, e a grande maioria que insiste que a exposição da criança foi desnecessária – tem até quem aponte que a mãe fez tudo propositalmente, flertando com grandes visualizações.
Seja o que for, observei a situação com um olhar diferente. Em um primeiro momento, pensei na oportunidade perfeita que aquela mãe tinha deixado escapar: aquela era a situação ideal para ensinar um bocado de coisas que a criança provavelmente jamais esqueceria. Fosse a questão de que “nem sempre tudo sai como planejamos”, ou “imprevistos acontecem e o melhor que podemos fazer é resolvê-los”, ou ainda “o que está feito já está feito, vamos seguir em frente”... Enfim: são inúmeros os exemplos de possíveis aprendizados.
O que desaponta em uma situação como essas (porém não surpreende) é ver que a internet serviu como muleta mais uma vez. Como se a exposição virtual fosse resolver alguma coisa, não só a mãe expôs a imagem do seu filho em um momento onde ele não estava se gostando, como também gerou um caos desnecessário que poderia ser resolvido facilmente – e foi, já que no vídeo postado em sequência eles foram até outro profissional que acabou ajustando o corte.
A pergunta que fica aqui é uma só: por que então?
Por sorte, a psicanálise explica: temos uma necessidade natural em se conectar com o outro. Em tempos vazios como esse que estamos vivendo, a internet oferece uma falsa impressão de que somos importantes para alguém. E como já se sabe, precisamos nos sentir parte de alguma coisa e/ou gostados (mesmo que por pessoas desconhecidas). No fim de tudo, a atenção que se pede ao publicar um vídeo como esses é atendida. Concordando ou discordando, os números confirmam: tem muita gente assistindo qualquer gritaria. Ao mesmo tempo, não temos quase ninguém enxergando nas pequenas situações do cotidiano a oportunidade fantástica para educar.