A expectativa sobre aquilo que nos tornaríamos ao fim da pandemia sempre foi elevada. Existiram promessas de uma valorização maior aos abraços, do resgate ao olho no olho, e da importância de estarmos juntos. Lembro que durante muito tempo nós martelamos o discurso de como o toque e a proximidade faziam falta, e que o momento servia como ressignificação para uma nova etapa que estava por vir. Não sei como tudo está sendo por aí, seja onde você estiver, porém por aqui tudo segue bem estranho.
Tenho me incomodado mil vezes mais com algo que já me incomodava antes disso tudo — a falta de reciprocidade nas pequenas coisas. Aquele “bom dia” dito por uma só pessoa no elevador, aquela gentileza ignorada, aquela frieza que muitas vezes envolve as trocas (seja na farmácia, no supermercado, em uma loja qualquer...). Imaginamos uma sede pelos reencontros, mas o que se vive é uma escassez de afetos.
De alguma forma triste, o mundo ainda está lidando com o luto. Tanto por aqueles que partiram em meio à pandemia, quanto ao medo que ainda persevera daquilo que pode nos alcançar a qualquer momento. É como se temessemos a próxima grande tragédia que precisaremos enfrentar — mas agora não queremos ser pegos de surpresa outra vez.
O meu medo é que, de alguma forma, tenhamos nos acostumado com essa distância que continua nos separando, mesmo que agora estejamos frente a frente. E talvez isso tudo tenha surgido justamente pela privação do humano — por tempos fomos apenas online, apenas chamada de vídeo. Quem sabe a gente desaprendeu a abraçar, até porque, levou um tempo até que nos sentíssemos seguros para isso. Ainda está levando.
Falo por mim: estou mais antissocial do que nunca. Não sei se a resposta para isso é porque me acostumei (da pior forma possível) com a casa em total silêncio ou com a impossibilidade de sermos coletivo. Fato é que receamos sentir-se humanos pela angústia de sermos privados de continuar assim — ninguém quer estar vulnerável, ao mesmo passo que a vulnerabilidade é o que nos torna reais.
Enquanto sonhávamos com dias melhores, chegamos a acreditar que a pandemia nos ensinaria diversas coisas. Estávamos errados. Não existe ponto positivo na violência, ainda mais quando ela nos separa de tantas formas — todas elas cruéis. Por enquanto, seguimos apenas sobrevivendo, à procura de um vestígio de esperança que nos permita imaginar um dia onde seremos maiores que o medo que ainda persiste.