Antes de querer ser escritor, o meu sonho de criança era me tornar um astronauta. Não sei dizer ao certo de onde surgiu essa ideia – sinceramente, acredito que foi uma resposta rápida que pensei quando estava ainda na escola e aquela tradicional pergunta foi feita: “o que você quer ser quando crescer?”. É claro que imaginar-se dentro de um foguete que é lançado para bem longe encanta qualquer um, ainda mais se levarmos em conta o número de pessoas que conseguem ter uma experiência como essa. Contudo, esse meu plano de me aventurar pelo espaço foi... Para o espaço mesmo.
Aos poucos, os aniversários se acumulavam e eu me tornava um pré-adolescente cada vez mais ponderoso: como é que eu poderia ser um astronauta se sempre tive leves vertigens diante de algumas alturas? Mais do que isso, o plano de comprar um foguete para ter no quintal de casa me soava um pouco pretensioso e caro. Então os anos seguintes foram marcados por muitas dúvidas que perduraram até o final da minha adolescência. Mesmo na faculdade, precisei trocar de curso umas quatro vezes, sempre na esperança de enfim me reconhecer em alguma área específica.
Por mais que aos 12 anos eu tivesse dito para a minha mãe que gostaria de escrever um livro, inacreditavelmente essa hipótese me parecia mais arriscada – e até um pouco mais impossível – do que ser um astronauta. Os tempos eram outros e as oportunidades também. Sendo assim, considerar uma carreira literária, principalmente em um país que ainda tem índices de leitura muito baixos, tornou-se distante.
Acontece que eu acredito que se recebemos um chamado é porque devemos atendê-lo. E foi assim que, da forma mais inevitável possível, reconheci e aceitei que a escrita faz parte de mim e que eu simplesmente não sobreviveria se optasse por ignorá-la. Costumo dizer que todos nós temos um jeito específico de chorar – seja o choro em si, seja pintando um quadro, seja compondo, seja dançando a nossa música favorita... A verdade é que precisamos colocar aquilo que sentimos para fora, e cada um encontra uma maneira diferente de fazer isso. No meu caso, preferi parar de negar a urgência das palavras dentro de mim e transformei elas nas minhas lágrimas. A minha escrita é a minha forma de chorar.
Hoje eu entendo que talvez não conseguisse mesmo ser um astronauta. Não só pelo meu impasse com a altura e a vertigem, mas também com a solidão. Eu preciso do contato humano, das experiências reais que vão inspirar novas linhas, do ouvido atento às histórias no meio do ônibus para entender como o ser humano se comporta e como ele se desmembra até transformar-se em personagem.
No meio disso tudo, encontrei uma forma de ser um pouco das duas coisas. Tal qual um astronauta, estou sempre viajando (seja para realizar bate-papos em outras cidades, seja metaforicamente para criar); tal qual um astronauta, estou sempre olhando o mundo de longe (mais do que nunca, o afastamento se prova necessário para enxergar as coisas de fora); tal qual um astronauta, vivo no mundo da lua – até porque, se não vivesse, nem escritor eu seria.