Se você ainda não me conhece, imagine uma pessoa teimosa e eleve na vigésima potência. Muito prazer! Nasci assim, com essa mania de ficar batendo o pé constantemente para provar o meu lado das coisas. Talvez seja uma manifestação do meu lado libriano querendo gritar que tudo só está bem quando explicado perfeitamente e justo para todas as partes. Mas é claro que isso acontece porque talvez eu só seja um chato mesmo.
Quando eu era mais novo, uma das minhas maiores tarefas era panfletear os meus artistas favoritos. Mais do que isso, lembro de insistir um bocado para que meus amigos passassem a gostar deles na mesma intensidade que eu gostava. Munido de um caminhão de argumentos, sempre tentava ressaltar os pontos X e Y até que eles se convencessem a dar uma chance. Todas as vezes que alguém falava mal da minha cantora favorita era um pesadelo: eu comprava a briga mesmo, e independente do desenrolar, a minha chatice fazia questão de assegurar (ao menos no meu íntimo) de que eu estava com a razão e ponto final.
Demorei muito, mas hoje posso dizer que abri mão do óbvio: o famoso fardo de sempre querermos estar certos. A insistência em comprarem o nosso ponto de vista é tão tola porque o outro é e sempre vai ser o outro. Cada um enxergando de uma forma, fica praticamente impossível encontrar o mesmo denominador e concordar cem por cento. Ao livrar-se desse peso, não só compreendemos que não temos o dever de mudar nada em ninguém (até porque, isso seria inútil), mas também nos sentimos mais leves. Em troca das brigas, mesmo que bobas, abre-se espaço para o respeito (com a opinião e gosto do outro, e também com nós mesmos).
Essa sensação de amadurecimento que traz o conforto de que cada conselho conquistado ao longo da vida realmente faz sentido é única. Passei anos escutando que eu deveria deixar algumas coisas “entrarem por um ouvido e saírem pelo outro”, e agora, mais do que nunca, visualizo um túnel direto entre os dois lados da cabeça. Não há espaço nem mesmo para uma filtragem: tem vezes que a gente só tem certeza que não deve acomodar algumas questões dentro de nós – nem que fosse só por uns 5 segundos.
Abrir mão é permitir-se uma vida mais tranquila. É muitas vezes agir com indiferença, sim, mas uma indiferença que nos fortalece porque escolhemos não nos desgastar com pequenos atritos. Como disse Fernanda Young uma vez: “sinceramente, abro mão. Vou atrás de um outro jeito de viver a minha vida, já que em qualquer situação diferente estarei lucrando”. E esse “ir atrás” é o exercício perfeito para encontrar ali na frente pessoas e situações que valham a pena entrar por um ouvido e quem sabe nunca mais sair.